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Floresce o homem rebelde...

Floresce o homem rebelde entre as frestas nos arcabouços da clausura, do planalto às lezírias, em mares ígneos navegados espelhando tímidas lágrimas coloniais, rostos mancebos sulcados lavravam saudades lívias de pai e mãe e dos torrões matinais arados. Na floresta de salgueiros e maias um exército pacífico de bravos, forja em silêncio desejado armas que florirão cravos. De frente mirando o horizonte, à sombra do esquecimento uma nação, comandavam o progresso da paz armados de abril em brasão. Silenciada a amargura de uma boca esfomeada ou cúspide ditadura, alcançou-se em regozijo tranquilidade celeste, porque o infinito não tem idade se despojado veste a nudez da liberdade.   (poema 25 de Abril, para actividade na Esc. Sec. Penafiel)
O vento queimado ondula as cinzas no olhar de quem não se vê, a fuligem é tudo o que resta. O respirado matinal enrubescido humilha o solitário tição exaltado, a vaidade morreu. O firmamento apagado nubla a pauta luminosa do que resta ao infinito, este corpo não sou eu.
Tragam as castas, o mosto colhe-se perene ao fundo de cada sonho, tenho Torga às candeias da escuridão que me alumia.  Ah, a vida, que bela seria.

Halloween

Ei-las! Bruxas! Nas máscaras que não caem, Nos dias escondidos, Das vidas que nos esvaem. Virulenta, A placidez de um abraço escondido, Em sorrisos no olhar Que o ego apascenta. Clausura, A hermética existência imposta É salubre ditadura? Não me omitam nos arco-íris! Desinfectem-me a alma Com o âmbar, néctar dos Whiskeys! E ainda que me soçobre em prantos, Deixem-me pecar arfante pela noite Pois amanhã acordam os santos!

Nas Tuas mãos

Não te afoita o despreparo, nem a cálida impressão da vida no seu anteparo. Rasgas caminho ombreando forças com o vazio dormente, sorris na ruga desgastada das vidas que, a teu toque, amanhecem crianças novamente. De teu labor sorrisos ondulam nos ribeiros do teu suor. Da noite iluminada à luz do silêncio apagado, em leito descansas sob o céu de um cansaço chorado. Hoje o aconchego parece-te cru, mas amanhecerá futuro nos corpos torpes que visitaste porque tu, és tu! Não desvaneças a distância dos saudosos abraços, aos pais e avós como a teus irmãos. É o próprio Deus, que, dos teus braços, faz as Suas mãos.
Que farei eu, quando o infinito terminar com a luz dos meus olhos e me descobrir, então, pedaço de terra, aluvião, um vento à sorte sem incomodar os véus, que farei eu, Deus? Que farei eu, na ternura do amanhecer, quando em cárcere não me vir sobrevoar os montes, eu, sobre barcas e carontes, nada mais aprisionando do que a ilusão, hoje é ontem, amanhã é não. Que farei eu, terra alcalina da súplica numa hortênsia, casta de cepa sem afluência de seiva bruta, em silêncio de tarde de domingo. O infinito, a terra que me quer inaudito e eu, sem o saber, planto mundos porque não o sei dizer.
É do futuro o entrelaçado passado que me soçobra, não pelo vento, nem a falta de alento, mas pelo que de mim me ausculta, vitrificado, o outro eu que não meu, teu enfim o infinito calado, como a palavra silenciada o meu cajado.
Pagaria, caso as nuvens fossem dinheiro, o que necessário fosse para ter, sempre, a refracção das gotículas de água num dia de sol tímido.  Engano o torpor de uma viragem na estrada com a promessa de ser, novamente, o som abafado da surpresa de uma criança a ver pela primeira vez a influência de um sorriso. Tenho gastado as horas, talvez por isso o tempo ranja quando passa perto de um sentimento e o vento se faz ao caminho, na maior parte das vezes sozinho, para se sentar no colo de alguém que o embale, até ele se recordar daquilo que realmente vale. Deitado, a noite subiu já até ao meu peito, preparando-se para me cobrir. Agora sim, é hora de dormir.
Dentro do teu olhar habita a visão do que vislumbrei antes de saber observar. Viste?
Os que têm tudo e não são felizes com nada. Os que não têm nada e são felizes com tão pouco.
Para o colateral onde me viro em oração, entrego todo os dias iguais, sem mais, sem menos, ouvindo apenas o que me entrega o labor de silenciar o vento, nesta surdina abafada de um metal em brasa a expelir-se porque não me sei falar. E, porque, digamos, pensando... (pausando)... sem me saber dizer e por isso solicitado em oral, sorrio o fim da tarde e deixo-me crepuscular de olhos fechados para que me auscultes na ausência de uma reticência. Foi distracção, andava a escutar uma lágrima tombada ao interior de um mundo apenas e só porque aquela nuvem me fez lembrar o céu, e de lá, donde vim, também a vida foi eu, nesta e noutras idades. E porque, enfim, também de mim sinto saudades.
Não me faltes aos passos, o caminho e a vereda, o linho e a seda, não, não me faltes ao caminho de volta a mim, o caminhar agreste no inominável, a cratera chamada dia e o que o silêncio nos ensina, a vida é uma palma de mão sem sina, o arfar seguro, a fenda no muro, o parágrafo sem respirar, o abraço que fica por dar, não, não me faltes aos passos porque não sei voar…

Asilo do conhecimento, num mundo de loucura

Texto incluído no " P rojecto P oesia& M usica e m l ugares p ouco R ecomendaveis" para o Arquivo Municipal de Penafiel. Engavetamos a liberdade na escolha de sermos presos. Primeiro os mais antigos, classificados por inutilidade, agrilhoados aos sentidos até não sentirem mais, eles, os sagrados, os profanos e os imbecis, a nós iguais. Os sussurros que ouvimos são memórias distantes, um tempo que, relativamente a ontem, veio já antes. O bater firme do metal ao fundo da gaveta, o sorriso papiresco e a morte esgrafiada pelo gume de uma baioneta. Já nada sucumbe, porque nada vive ou habita, em nós, em vós, nesta modorra maldita, neste silêncio que faz companhia aos mundos sós. Arquivado, o saber ocupa o lugar vago, o estorvo de uma vida com saber amargo. Caberemos ainda no dossier amarelecido onde suaves dedos nos moldam e pincelam os medos? De quando em vez, o olhar furtivo para dentro de um livro, o pousar terno e ameno de quem nos conserva, o calor humano sobre a rememo...
Diz-me de que mundo pendes dir-te-ei a que universo pertences. Nada do que me soçobre poderá almejar mais que o orbitado eu, aqui em pé orando e Deus, ali, acordado porque não tenho mais ocasos para florir nem tu mais desejos por sorrir, olha-me fundo no desespero algures um braseiro aceso é tudo o que me ilumina toda a rosácea multicolor talvez borratada (o que nos faz o calor?) vai do fundo do destino ao início da sina.
Entre a vida e as oitavas quem te conduz? Que braço oscila pendendo entre o iluminado e a luz? Uma nota acima entre o passado e o futuro, quem te canta? quem te rima? Vai pautando, sorriso em cara cheia, nos intrínsecos de um coreto brando a placidez de uma nota que se quer ameia. Vai, caminhando, partindo, chegando enfim, a existência não ascende é esta espécie de colcheia que pende, pedindo, o conceito inacabado que a conduza fora dos limites do limbo.
Apoio-me ao lavradio o calor da terra desenterra a manhã Outonalmente acastanho-me de castanheiro enquanto não me sobro ao braseiro, estou longe ti Inverno companheiro. Greto os lábios do frio, quando me vestem de nada sacio a morte pela madrugada e faço-me homem ou ermo, damos todos ao mesmo. Agora que surge o ocaso o Sol espreguiça-se a Oeste, não consigo ser-me outro aquele ou este, porque de mim ao infinito há uma dízima e nela a sequência espiral do Deus que lavro, acima do bem e do mal.

Deus

Nada Te peço acima, Deus, do que quer que me vindime nem vinha ou estio sina que desfruto no vazio, nos antípodas que excito electrão proscrito na órbita errante da existência, faz-me crer neles como em Ti, obrigado pela consciência silenciosa alegria da existência, encontrar-Te na terra virgem  aqui ou além e rezar-Te ainda assim na elegia, pelo infinito  e mais um dia.

A deus

A saudade soluça na espera de quem nunca chegou. É o tempo germinado fora do útero. A ti, meu vale, onde frago ainda o que sou, esta riqueza de me ambicionar pobre pinta-me ocre e ausência. Contra Deus nem religião, nem ciência. Dorme, Tua, afundado na tua inocência.
No céu de tílias há infusão de peregrinas fés, içam-se manhãs milenares nas escadarias onde descendo se subia saboreando-se as tardes à sombra de um Sol que sorria, urge a noite que me acorda e eu, adormecido, rasgo o horizonte semeando apenas com o olhar o futuro que ausculto, não me desenho, vivo, à vontade do que me tremeluz saúdo, inebriado, de peito arado e cego o tríplice soar matinal. Em nenhum deles te nego.
As virtudes dos sentidos na ascensão embrutecida do sol encimado pede ausência de luz, aqui já nada seduz. As azinheiras adormecem à sombra das pessoas cinzentas, amortalhadas pelo vazio esbatido, um pouco de nada nas vestes encardido. Ribomba a noite em girândolas gulosas, o meu peito infla e entumecem-me os olhos, as estrelas tremeluzem talvez saudosas (minto-me) dos meus sonhos.