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A mostrar mensagens de novembro, 2006

Rosa vermelha

Era perto das 20:30, entrada de uma grande superfície comercial em Penafiel, entrei com a Ana e logo à nossa frente estava um homem, ar humilde (não era o ar ambiente, era mesmo o olhar que o vestia), com um fato gasto, azul escuro com finas riscas brancas, um cabelo semi-penteado, ou melhor, um semi-cabelo penteado, uma cara gasta e um olhar que não sei descrever.  Ao seu lado estavam algumas sacas de plástico.  Tinhas botas, castanhas, escuras, castanhas de origem e escuras de tempo. Mas o que mais me atraiu, o que os meus olhos gravaram, foi a rosa vermelha na lapela. Aquela flor conferia ao cenário um toque de génio, é como quando tentamos desenhar algo, escrever umas linhas, mas sabemos que falta algo para terminar, uma pincelada oculta, uma linha mais no poema, assim era a rosa. Desconheço a razão, seria um encontro? Não sei. Seguimos para uma loja, tentar ser mordido pelo gordo cão do consumismo, e quando voltamos ainda lá estava.  Fizemos as compras, andamos de um lado par

A primeira vez

Para tudo existe uma primeira vez, não é mesmo? Tudo o que fiz hoje não foi pela primeira vez absoluta, mas relativa. Mas ontem, bem, ontem foi mesmo a primeira vez. Eu, Miguel, 1,90 mt de gente, em plena formação, consegui apoiar-me mal na cadeira e dar um tombo daqueles que eu mesmo gostaria de ter visto de outro ângulo!  Ai, não há palavras, tive que me conter para não me rir ao longo de toda a formação e acredito que o mesmo tenha acontecido com os formandos... Embaraçoso? Nah! Muito, mas mesmo muito hilariante!!!

Beyond

Acho que foi a primeira vez que te vi assim, com os olhos cansados e fundos, prenhes de desilusão.  E eu, sem saber o que fazer.  Se ao menos pudesse parar o mundo e andar por aí, contigo, para te mostrar o que de belo me mostraste a mim. Tenho na boca um travo amargo, que nada consegue adoçar.  Uma dor que nem as neblinas conseguem abrandar. Como tu, também estou cansado.

Só amanhã (aliás, ontem...)

Escrevo apenas por obrigação. Porque tenho gostado de vir este bocadinho ao computador antes de me deitar. Deixo que as horas rebolem silenciosamente, mas as histórias, as neblinas, os sonhos, mantenho-os suspensos, ainda que eles, os sonhos, teimem em surgir. Escrevo apenas para dizer, não, não vou dizer. Ou sim, digo, porque sou sincero e não me apetece refugiar numa aparente calma. Hoje, especialmente hoje, estou cansado. As neblinas e sonhos, esses ficam para amanhã. Neste tempo sou apenas umas botas molhadas pelo orvalho da noite, uma chávena de café e um pão seco, um afago num animal, o parar em frente ao Sol e fechar os olhos, para que aquela luz me complete e se espalhe pelo corpo, uma enxada e um pouco de erva, um sino ao longe numa capela de uma religião qualquer, a lousa dos telhados, o colmo nos campos, o gado que pasta, uma gota de suor, o entrar numa cozinha quente, o pousar a mão num muro com musgo. E acordar. Porque as neblinas e sonhos. Só amanhã

Um amigo gigantesco!

Há marés, como se diz na minha terra, onde aparece tudo de repente. Ando uns dias sem escrever no blog e depois, quando toca a maré, venho para aqui escrever sobre tudo e, quase sempre, sobre nada. Por vezes escrevo sem saber o porquê, apenas me apetece e é razão mais que suficiente.  Estas noites frias, cada vez mais frias, embalam-me num torpor agradável, catalisam a neblina que começa a descer sobre os meus olhos e onde se movimentam outros corpos que não conheço. As zonas do céu onde não existem nuvens permitem ver estrelas, aqueles pontinhos brilhantes sobre um azul mais claro que o habitual, haja Lua para nos iluminar! Por vezes, mas só por vezes, o Universo parece querer brincar jogos comigo, quando penso em algo ouço o seu murmúrio “olha para cima”, olho e vejo, naquele preciso momento, uma “estrela cadente”. Cá entre mim e esta folha de papel, é a sua forma de me sorrir e eu retribuo, com um piscar de olhar. Tenho um amigo mesmo grande, não tenho? Ainda sobre as bolacha

Só mais isto

Antes de começar a trabalhar depois de almoço (ai que sono), não posso deixar de escrever meia dúzia de linhas... Este tempo frio, com Sol quente, matas a serem limpas, montes de erguiço, fetos e ramos a serem queimados, a neblina de fumo que paira no ar, o barulho da forquilha a acomodar mais mato na fogueira e um olhar que se vê mal ao longe lança-me um aceno de mão... Traz-me à memória outros tempos, de criança, de vir da escola já noite, pousar a mochila (antes era sacola), fazer os deveres e outras coisas mais que, agora, não tenho tempo para escrever... Uma cozinha velha, preta, onde o vento uiva porque o telhado não assenta correctamente nas paredes, um forno velho tapado com panfletos de promoções de um mercado qualquer, a pedra onde se fazia a lareira, as telhas de vidro para entrar o Sol, um rosto velho, onde o tempo gastou o olhar, umas velas retorcidas, um corpo num banco envolto em neblina invisível, uns sorrisos ténues e uns parabéns merecidos... Pronto, era isto.

Torrada ou Maria?

O divertimento das escovas gastas e a chiarem vai ter que acabar, hoje constatei que estão de facto muito gastas e embora me divirta a ver os carros duplicados, se alguém da DGV vê este post é provável que me denuncie e não estou numa altura em que pagar multas seja um desporto, que se pratique de ânimo leve. Vinha cansado, disposto a tomar um banho e dormir, mas o estômago também fala e à minha espera tinha outra parte de mim, a Ana. Sentei-me, tomei o meu leitinho com bolachas e o normal seria terminar aqui, tomar uma banhoca e dormir, mas não, não foi normal. E não foi normal porque além do leitinho, tinha umas bolachas, várias bolachas ou tipos de bolachas e dou por mim a olhar para uns anos atrás, ainda criança, sentado num banco com tampo em fórmica, frio ao primeiro toque, com os braços apoiados na mesa, também de fórmica, com um pano azul, bordado, e em cima, a fumegar, uma chávena de leite com mel. O cenário mudou, obviamente, mas o sentimento é o mesmo.  Recordo, com um