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A mostrar mensagens de setembro, 2017

A deus

A saudade soluça na espera de quem nunca chegou. É o tempo germinado fora do útero. A ti, meu vale, onde frago ainda o que sou, esta riqueza de me ambicionar pobre pinta-me ocre e ausência. Contra Deus nem religião, nem ciência. Dorme, Tua, afundado na tua inocência.

Ilha

Crónica de domingo, 17/09/2017, na Bird Magazine . Sem qualquer surpresa, o dia escorrega da noite para a iluminada parte da terra, percorrendo sem grandes veleidades léguas de chão parando poucas vezes para escutar o que de nada sai quando a mediocridade e inocência teimam em falar.  Fascina-me a inconstância meteorológica e os frutos que a terra vai parindo, seja fecundada profissionalmente ou somente com amor. Fascina-me o acre do suor e o movimento de fuga da insectivorada esgravatando terra adentro como desejando voltar para os braços da mãe. Fascinam-me anos passados numa memória que dura um segundo.  Quem não gosta?  Há um se e uma realidade, qual de ambos é real?  As costas voltadas à montanha ou a obsessividade pela vida que se sabe não existir?  Fascinam-me as cores sob as nuvens antes do Sol se pôr ao encontro dos momentos finais do dia, ainda que, como hoje, as cores vivam apenas na imaginação das palavras que me escrevem. Que seriam de meus dias futuros, sem a in

É a vida

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Crónica do Nada , no Correio do Porto . A vida faz uma pausa prolongadamente breve na tarde brevemente prolongada. Ouço suspiros árduos serem derramados na impossibilidade masculina de ver ter lágrimas nas faces ásperas de socalcos mais ou menos arados. Paira na invisibilidade do meu olhar a réstia nublada transparente do que é, timidamente ainda ligado ao que era, num interlúdio vago entre realidades distintas, a realidade irreal e a realidade infinitamente não real, para onde vaguearemos quando nos cansarmos de jogar, pelo tempo, pela vontade, pelo momento, pela idade. Nesta irreal realidade dei já várias voltas à mais comum das claves, Sol. Parece uma eternidade quando nos habituamos a viver abaixo das nuvens, deixando-nos arrastar na temporalidade intermitente do quotidiano para onde nos empurram: Ide e possuí! Dezenas suspendem-se, timidamente olha-se para o lado, procuram-se caras conhecidas, para nos percebermos desconhecidos de nós mesmos, vivos menos vivos que se agl

De mãos dadas

Crónica de Domingo, na Bird Magazine . Apenas o local se mantem igual, os lanços de escadas, a profundidade dos degraus, tudo mingou. Teria sido eu a crescer? Se o invólucro de base carbono que me serve de abrigo aumentou, continuo a ver o mundo sentado no pequeno banco de madeira ao qual dei o feminino nome de curiosidade, daí o meu espanto, estarei a relembrar-me no passado ou a visitar-me do futuro? Hoje Mini-mercado, antes era apenas a Loja, aliás era simplesmente o Senhor Moreira.  As prateleiras ornamentavam-se com preços manuscritos em tiras de papel, sem preocupação marketeira de colocar determinados produtos a determinadas alturas para determinados olhares. Havia o que existia, comprava-se de forma pautada, “é para pôr na conta” no caderno alto e azul-escuro, com redondas e trabalhadas letras dispostas no contabilístico “T”. Um “dou-lhe a minha palavra” era o quanto bastava para reduzir a lixo o rating das agências actuais. Os olhares não mentiam, quanto muito escondiam-se