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A mostrar mensagens de maio, 2010

Subir

Subir o Marão, olhar a placa alusiva a Miguel Torga, descer para Vila Real e, mesmo parado, continuar a viajar pelas estações do ano que moram em cada cara com que me cruzo...
É incontrolável, surgindo como quem brota de um muro moído pela água e pelo roçar de gado que se faz gente, incontrola-se aos poucos, na certeza do que se faz jamais se disse, porque no olhar, na procura, no vislumbre que o destino aparenta exibir, há sempre um portão a fechar-se, um som de ferro em ferro, ecoando em mim o eco e o som, sem se saber qual deles nasceu primeiro, se o ferro, se o muro.
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Desde que sou tempo, passam-me a conversar pares quadrigêmeos de mãos sem se tocarem. - Acho que vi uma pessoa. - Não vejo. Virá para aqui? Pouco se rende o cansaço, nem esmorecendo a esquina que não se consegue dobrar, há sempre um par de cegueiras vendadas que me faz acordar. - Passou novamente sem parar… - Nem abrandou? Nada me demove, mesmo aqui parado ouço outros imóveis urdindo planos elevados onde não alcança o céu, quanto mais as estrelas… - Vem aí alguém! - Outra vez? - Não, vem mesmo para aqui. - A sério? - Sim… E traz algo. Os passos apressados, inquietos, trazem a cegueira que me atribuem, conspurcam a mágoa e as ombreiras do destino, pintando de negro o arco-íris da amizade. Ladrilhando de solidão o transparente, facilmente cegou a sua irmã oposta em gestos firmes sem vida, onde chaves invisíveis jamais abrirão em par o agreste que semeia o verde. - Quem era? - Não sei, já não vejo… in Alma Tua .
Poucas leveduras me levam a fermentar como um sorriso raro em forma de sorvete, nas ideias e peças que não sei representar, venço-me com a minha própria escrita porque não a sei ler, apenas me lanço apressado ao caminho que vi quando me tentava nascer.
É este calor que me ensurdece, me dá voltas à imaginação para, agora, estar deitado numa rocha ainda quente, amparar a cabeça num tronco velho e, de dedo em riste, escrever as minhas próprias palavras juntando estrelas...

IV Os coelhos

O barulho de uma motorizada, ao longe, fá-lo acordar. Não sabe como, mas tinha coberto a cabeça com a serapilheira, talvez para se resguardar dos primeiros raios de Sol e não acordou com o raiar do dia, como era costume. Levanta-se de uma vez só, espreguiça-se continuamente até ao portão, afasta a meia pipa e espreita por uma nesga. O barulho da motorizada aproxima-se, estridente. Aquele zingarelho com duas rodas levava condutor, que era a modos a pessoa que agarrava aquele ferro e indicava o caminho ao cego motociclo e, atrás dele, agarrado a ele, uma menina agarrava-se ao condutor, com medo do vento a levantar. Tinha um minúsculo capacete, que premia contra as costas do pai e, ao passar pela eira onde o carteiro espreitava pareceu sorrir, como se o visse. A motorizada segue o seu caminho, cega, com o seu domador a atiçar ora para a esquerda ora para a direita, galgando caminho por entre terra batida, terra solta, raízes de árvores e regos feitos por outras motorizadas e pela água da
Era o mundo nosso, reino de rugas, urzes e fragas, solo pedregoso talhado a suor, memórias caídas que com teu esquecimento esmagas. Pasto-me ao largo e volto empastado no lombo sem rédea, coice ou afago, percorro meu destino redondo enquanto não me Inverno com os estrepes da colheita e o trotear com que na paisagem me apago.

Desconhecer

Soubesse-me o Sol mundo já prostrado à sombra de uma verdade que floresce Primaveria uma forma de vagabundo às estradas que se esquivam aos caminhos que se erguem agora que um outro aflora. Sei-me em mim e pelo universo fora e no entanto as fábulas urdidas fazem-me respiração e um mundo de Sol que se sabe desconhecer.