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A mostrar mensagens de outubro, 2008

Fall

Uma estrada sem nome, sozinha, vagabundeanda por folhas de plátanos que já não crescem, percorre-me na viagem que o vento uiva e nas curvas cegas do olhar, saboreia o ardor e o temor de uns passos feridos, serpenteia entre a chuva e a felicidade dos idos. Ausculto o pulso aos olhares de gente que não vê, faço minhas tuas mãos para tactear no escuro uma luz esquiva, arfante por um punhado de terra húmida e viva... Encerro capítulos de livros e orvalhos, sou sombra com sombra de plátano numa cama fria de Outono. Rio sozinho no final do meu reinado aqui, num sonho sem dono...

Quero

Quero os silêncios malhados e forjados nas costas do destino, quero a palma dos teus rios bravios e o leito de desfiladeiros onde desaguam secos. Quero o esquecimento dos dias e das sombras das noites, nos sinos que por ninguém dobram o som aguado da morte das mãos e das foices. Quero a chuva, de uma estação abandonada entre frestas do que seria, de gente com alma caiada e olhar de rebeldia, pós e dores e ruídos e sei lá! quem traça a linha que me separa, do momentâneo agora e do eterno já...

Horizontes

Vou conduzindo sonhos e estradas no meu trajecto intermitente. Quantos caminhos se separam apenas na confluência, para se encontrarem em qualquer bola de sabão colorida? Surpreendo-me por esta pausa no trabalho, mas mais ainda pela iniciativa em escrever algo aqui, no portátil, atrás de um painel solar algures perto de Oliveira de Frades. Confesso que o cenário ideal não é aqui, sempre pensei que estes pequenos sóis que bailam em torno de mim se manifestassem apenas junto da Natureza, mas não, creio que afinal manifestam-se junta da minha Natureza. Uns passos errantes passam atrás de mim, sobrepostos apenas pelo som de pneus cansados de carros de donos apressados. Alguém para e olha para mim, cenário novo, um portátil em cima de um quadro eléctrico e um mendigo bem vestido, ancorado às sombras das nuvens e a montes que se perdem de vista, como se da vista não fossem, apenas do horizonte e nada mais. Parei uns largos minutos... Creio que estes pequenos sóis surgiram apenas para dar ale

Limiares do meu olhar

Detesto chegar aqui, com sono, arrastado pelo desejo das letras que me habitam e nada escrever. Há momentos que apenas poesia pode explicar, como pequenas gotas num pavimento,que dizem mais que um aguaceiro. Hoje, sim, hoje trago comigo as limítrofes, as fronteiras e os abismos para tudo o que sou. Sinto-me despido, nu, sem palavras que me confortem nem letras que me abracem, apenas nu enquanto outros eus vagueiam nos limiares do meu olhar, em vidas muitas que vivo nunca. Hoje, sim, hoje sou apenas um trocadilho daquilo que sei ser. Sou.

Father and Son

100 título

Às vezes acho que eu sou o poema que tento escrever. À procura de rimas, de palavras que ainda não conheço, amparando-me numa ou noutra vírgula, sem um título definido... Passo os dias com páginas e páginas de livros que gostava de escrever, poemas e frases que se seguram às pessoas que se cruzam no meu olhar. Escoro cada pequena sílaba, na expectativa que, mais à frente, surja uma outra que complete a frase e sim, encontro, surgem numa passadeira, num gesto cansado, no velho que conta os trocos a entregar ao dono do jornal. A minha história está cheia de histórias que vi, mas ainda mais das que se desenrolam numa infinidade de destinos que, sinceramente, nem sei se existem, nesta ou noutra dimensão. Eu (mesmo aquele que não conheces) sou um infinito dentro do meu mundo e, mesmo assim, não tenho título.

(Au) sente

Sei que tens passado aqui, olhas, nada de novo, botão retroceder e partes para outras paragens... Eu tenho andado assim, também. Nada de novo, a não ser o cansaço, o correr sem rumo certo, mas com destino tangível. Sinto por vezes que defraudo as expectativas que algumas consoantes depositaram em mim. As vogais, por serem poucas, foram falando entre elas e do pouco que me conheciam traçaram um perfil aeiou. As consoantes ainda me acompanham, trazem vogais por arrasto, são como as costas e as palmas das mãos, ninguém vive apenas de inspirar, há que expirar, ar e vida ou vidas, que é como quem diz, suspirar de nós mesmos e das paisagens que se acumulam entre aspas. Obrigado pela passagem aqui. Eu estou cá ou melhor, aí, porque aqui parece que não mora ninguém. (e há quem pense, ainda, que vive apenas porque corre e o vento lhe bate na face... mas as pessoas não percebem que o vento está lá, para mostrar que faz atrito e que vivemos... o vento foge, como pode, da correria absurda que algu