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A mostrar mensagens de agosto, 2017

Azedume

Crónica. Domingo. Bird Magazine . As tardes de Verão tiveram quase sempre, no meu imaginário, três ou quatro bandas sonoras, monótonas, taciturnas e muito pouco animadoras. Hoje não é excepção. A sirene dos bombeiros lamenta-se arrastadamente, fecho os estores e imagino que seja noite, com a sua longa túnica pontilhada aqui e ali com tremeluzentes pontos, longos, inimagináveis distâncias de tempos em que eu, deduzo, fosse um outro qualquer aglomerado de átomos, uma abundância relativa noutras percentagens, um isótopo ou apenas e só o pontilhado feliz e errante dos electrões que surgem e desaparecem nos diferentes níveis de energia. Ouço os carros zunirem, alternamente, novamente, a sirene dos bombeiros brame na quente tarde enquanto alguém se queixa do barulho, - há quem tenha crianças para dormir Sacudo a cabeça, antes fosse noite e todas as vozes que não chegam ao céu se calassem por momentos, se cingissem ao gutural arrastado de um ronco que sai da cavernosa reentrânci

Clar(a)idade

Crónica de domingo, na Bird Magazine . Não há na profundidade de cada um superficialidade onde possam navegar serenamente sinceridade e despojamento.  Há, sim, à superfície um profundo naufrágio que se banha nas águas da aceite e mantida ignorância.  Não há ameias ou margens, apenas um leito que desagua na imensidão escura que são os olhos onde procuro a humanidade.  Nada se esconde que exista.  E eu, cáustico, vou diluindo-me na esperança da sublimação que me evapore e me leve, etéreo, olhar nos olhos das estrelas e pedir, envergonhado, para dormir com elas Agora, baixinho, para não acordar o crepitar da lareira, vem sem medo para aqui, para a tua beira. Deixa respirar a vida que te descolora a teimosia de sobreviver, vai ali ao fundo, vê-te desvanecer, pelos remendos que te orgulham o mundo, vai ali, a ti.  Sabes, as pétalas que te florem dos ombros, são os teus braços, não os deixes pendendo como marcando o compasso com que te querem relojoar, o tempo encarrega-se de cair