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A mostrar mensagens de junho, 2005

Em passo incerto

Percorro, em passo incerto, as rimas que tombam sobre este dia, o momento em que desperto e quase morro tem um nome: poesia. Parte de mim sou eu, repousa nas ondas serenas da madrugada um excerto, um canto qualquer que recria a alvorada ou cair da noite, ao fundo no horizonte... Enquanto dia em mim outro eu se esconde, omite-se, prescreve-se às máscaras que nascem face a face sem fim...

Levem-me convosco

Deixa-me seguir teus passos, percorrer os trilhos dos sonhos, fazer deles meus como se fosse sempre a teu lado, como se a amizade ou a saudade fossem apenas um espaço vazio onde não cabe a idade... Inunda-me um hiato que sustenta a falta de firmeza, não quero, não vivo, não respiro esta nuvem de tristeza...

Coisas que não se dizem

Quando estou com amigos há pormenores que lhes escapam, faces que se mostram e há, sempre, muita coisa que não se diz. Coisas que não se dizem (fora do silêncio) Cada pessoa é um mar tumultuoso e incerto, que busca uma reentrâncias na vida que ampare as suas marés, que receba com alegria as ondas rebentando a seus pés...

Da terra

Queria escrever ainda mais. O "post" anterior soube-me a pouco. Sabe a pouco porque consigo escrever apenas um décima parte do que penso, do que sinto. Que falta me faz um mecanismo que traduza, digitalize, automaticamente, o que se cogita. Andei a percorrer alguns dos poemas, encontro tantos, quero escrever sobre tantos, escrever tantos mais, mas tenho que parar, respirar, escolher um que me sorri. Mais um poema. Um que tem rastos de passeios pelo monte, pelas aldeias perdidas, pelas gentes agrestes do campo, do fim do mundo. Da minha gente. Que amo. Da terra Cheiro da terra, Carícia de mão rude e calosa, Alfabeto decorado entre tojos e medas, O odor do presunto, calor do lume brando, Paro o tempo para dar de comer a esta alma gulosa. Fumo nos telhados, Colmos molhados, Paredes negras de fuligem que sai dos olhos, Imaginação do lado de lá, A cidade surge apenas em sonhos, Caminhos de pedra forrados a merda de gado, O chiar de rodas, O aceno inocente de quem em sorrisos se dá

Saudade ou não...

Há mais histórias, contos e poemas num minuto de vida do que em todas os livros do mundo. Escrever o que vejo, como vejo, as pessoas, os locais, cenas e cenários, tudo é imenso, tudo é enorme para poder reduzi-las a meia dúzia de palavras. Posso tentar, sempre, que cresçam das mãos palavras, frases, tal como saem de meus olhos, mas é difícil. Tudo é saudade Tudo me sabe a saudade, A terra molhada nas unhas e palmas das mãos, O suor e seiva dos olhos Que caem e fertilizam os chãos. Tudo me cheira a saudade, O corpo, um corpo estranho visto de longe, Uma qualquer aparição consciente de meus sonhos, Um beijo de alegria na face, O calor tórrido, excitante, de névoas sobre a cidade. Tudo me sabe a saudade, Cores, Negros, brancos, amarelos, vermelhos, Todas as cores de um arco-íris nas faces, O mesmo olhar, raiado ou não, da tristeza nos espelhos, Dores, Partos de um sorriso que teima em não morrer, Esgares paridos de encontrões no meu peito, A lama onde me deito, O

Na matéria

Há já alguns dias que nada tenho escrito.  Confio na memória, gravo tudo o que vejo, ouço, sinto e falo, mas no final nada tenho escrito. Encontrei alguns poemas que escrevi, antigos, e é curioso ler com outros olhos, diferentes dos que os escreveram, mais claros. Poderia rasgar alguns, mas os poemas, o que escrevo, são como experiências vividas, são momentos gravados, fundo, vivi-os, escrevi-os. Matéria Quero deixar a matéria, Que se aglomerem nas abóbadas centelhas de sorrisos Palpitando a cada lua que passa. Nas veredas de Inverno onde descansa num solstício Mora o sonho de vaguear em todo o momento, Porque tenho eu de ser corpo? Sentimentos que se comprimem no meu peito Fugindo à imensidão do vazio, da voz no escuro. Sorrio apenas quando exausto me deito. Na fria porta de saída aberta para tão alto muro, Não cabem mais indagações à relatividade, Nos escombros da carne crua e fria, Mas do alto do nevoeiro que surge à madrugada As canções que ouço são frutos, E emergem em golfadas

These mist covered mountais

Regresso a casa e vejo a neblina em torno das montanhas, não muito altas, com muitas casas, à boa maneira escocesa, daquilo que chamam "mist covered mountains". O termómetro do carro assinala 30º C, um ar bastante abafado para as 21:00 tolda-me o raciocínio (se não é o calor é o frio) e vejo o nevoeiro.  Nevoeiro?  Parei o carro numa curva, do lado exterior, com vista para uma parte do Vale do Sousa, contemplando a paisagem, as casas como cogumelos, algumas estradas e aquele nevoeiro.  Nevoeiro? Não era nevoeiro, não, era fumo, despojos dos incêndios que lavram por estes lados, fumo misturado com suor dos heróis ou bombeiros. Da janela, porque é noite, vejo umas labaredas que se estendem ao longo do contorno do monte, o fumo é laranja e eleva-se no céu escuro, como se fosse uma grande fogueira de São João. Pelo meio estão homens abnegados que travam uma luta desigual. Amanhã, antes de sair para a escola, devo ver novamente "this mist covered mountains", mas e

Partes de algo

Os meus amigos têm tanto de mim, que quando juntos são já mais que eu.

Os vossos olhares fundos de solidão

Olhares fundos de solidão, saliências na noite e reentrâncias no alvorecer que sucumbem na solidão, longas nuvens de fumo negro que sai da alma e do sonho para em teus anseios morrer. O toque na pele é lapidar, é frio e distante e, no entanto, é mais que carente, é fremente, é dor contida nesta lágrima é o embalar surdo do teu chorar. Quantas cadeiras e divãs, quantas? Quantas das faces te escondem o chão, onde te sentas e sentes os olhares fundos de solidão... Olhos fundos de esperança Sou de mim eu mesmo algo que encontra em ti, noutro ou noutra, um novo sorrir um velho olhar que ofusca as paredes espessas de fumo. São mais que as carências essas rodas de algodão doce voador em mãos vazias de outras mãos, em sorrisos ausentes de amor. Sobem e caem nas ausências no âmago das tuas existências, fazem deste fio de Ariadne uma ténue lembrança da água que fugia desta fonte para cair, serena, embalando os corpos numa indistinta dança. Se os dedos esgrimam no ar a ânsia de tudo dizer, os olh