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A mostrar mensagens de maio, 2005

Abandono

As palavras abandonam-me assim como a frustração, como se morressem quando em sentimento se transforma a emoção. Uma carcaça de pão seco e um saco velho de pano, entreaberto o portal do sonho onde falo e não se levanta o eco, que faces me cumprimentam e entoam meu nome? Gostava de ser sequencial como os ponteiros doidos dos relógios de sombra, para poder sorrir quando alguém, talvez tu, me conta algo que já sei... Quantas faces que desconheço e surgem na noite num qualquer livro de endereços, quantas mãos inabitadas me seguram como se fosse, eu, fugir novamente de mim. A música que não canto e embala o sono que repercuto é o hino da doçura, que adormece e entristece um sonho nesta calçada fria e dura. E remeto umas linhas que escrevo sem respirar, não vá a lucidez surgir e de novo tudo apagar. São os quatro versos ou sopros que alentam os detractores, permite-lhes esgrimir e suas demagogias surgir para escamotear, adormecer, as suas próprias fragilidades com os seus segredos, seus m

Há lágrimas que não podemos parar

Há momentos, faces, olhares. Há lágrimas que não podemos parar. Aninhado, vejo os mesmos olhares que via no espelho há quinze anos. Quinze. Olhares de esperança e sonho, de perda e ganho. Olhares que vêm ainda além do olhar aconchegados pelo sorriso, ainda além do sorrir. São tantos os olhares. Olhares marejados onde nadam ambições e poucas frustrações. Olhares de timidez e que acompanham a cara num movimento de fitar o solo. Olhares de solidão e despojo de vida. Olhares dos quais sinto já falta.Nos mesmos olhares descansam lágrimas que saltaram, que irão fazer sorrir e chorar. Lágrimas que ao correrem pela face, pelo corpo, irão moldar a identidade. Antecipam já sorrisos e dores, abraços e desencontros, amizades e saudades. Nos olhos deles e delas, crianças ainda, vejo alguns dos caminhos que trilhei, as mesmas alegrias, ilusões, sonhos, perdas, namoros e desencontros e também tristezas. Por muito que se queira abraçar o mundo, há lágrimas que descansam agora à espera da ocasião t

De quem se escondem

Os sorrisos chegam até mim inconstantes, não seguem uma ordem lógica, exacta ou friamente sem fim, são errantes que não sei de quem, alguém, que não sei porquê. Não sei se apenas adornam como quem mente, talvez, talvez seja o momento que o sorriso vence e se desprende, se liberta, talvez, talvez seja a porta da sinceridade aberta. Mas chegam tão espaçados, tão ténues por vezes, que são eventualmente reflexos passados de longas amizades de velhas e gastas idades. São idos, tão fugazes existem que não sabem que viveram ou sorriram. Fugidos, do cárcere dogmático com que os pinto às ruas e montes em vales floridos, não são mais que as faces que os escondem, nem menos que a amizade que sinto, são idos, fugidos. E eu sorrio, uma e outra vez, aos sorrisos que conheço e escapam das faces hirtas. Tenazmente permaneço uma e outra vez à espera que das ondas, que se formam no rio, surja o verdadeiro amigo e não este ser desconhecido que me mente...

Pitágoras

Pitágoras numa outra perspectiva. "Anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadeira desgraça consiste em cometê-las." "A vida é como uma sala de espectáculos: entra-se, vê-se e sai-se. " "Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem". "O que fala, semeia - o que escuta, recolhe". "Ajuda teus semelhantes a levantar sua carga, mas não a carregues". "Educai as crianças e não será preciso punir os homens".

Ao fundo da noite

Noite de domingo. As amizades não solidificadas são ainda uma paisagem que se desloca, não sabemos onde está ou estará. Talvez seja por isso que a mesma amizade dói, dói porque ainda depende do sentir, do amar. Venho sempre cheio de intenção para aqui, sento-me e nada. Devo ter obstipação mental. Com a vontade de escrever, os neurónios devem vir todos a correr e entopem as vias pensantes do cérebro. Ou é disso ou do sono.

Novamente à Amizade...

Gostava que a amizade fosse governante! Que apanhássemos com ela todos os dias, nos telejornais, nas rádios, nas revistas. Gostava que a amizade vingasse, que fosse rainha em todos os momentos, que ninguém nunca em parte alguma se sentisse só. Que em todos os momentos todas as pessoas se sentissem amadas por amigos. Este mundo é tão grande, este universo é tão enorme, que a única coisa que torna este vazio suportável é a amizade...

Fim de ano

Está a acabar um ano lectivo... Por muito ou pouco cansado que esteja e que queira que as aulas acabem, não me liberto desta saudade que começa a crescer. Vou ter saudades dos alunos, dos putos. Não consigo estar chateado com eles, não os deveria compreender tanto, mas compreendo, afinal, os meus 15 anos não estão muito longe assim! Cada aluno é diferente, tem olhares diferentes, sonhos diferentes, são poços de virtudes que nem eles conhecem e/ou exploram. Afundam-se tão facilmente nas modas, nos pensamentos vigentes, que nem sequer se dão ao trabalho de começarem a auto-conhecerem-se, de perguntar o que é andam aqui a fazer, o que querem fazer, quem são, de onde vêm, para onde vão. Ainda bem.

Sonhar

As faces aproximam-se discretamente do olhar, Como se fosse água que brota da luz Ou timbre profundo que no silêncio me seduz, Nas madeixas rubras do vento Onde o verde tremor a felicidade faz alcançar. Quando, A expressão por mim iniciada antes, Um pouco antes de proferir o som, Ou grito, O jogo de contrastes do veludo E do marfim, Sim, Que o branco é pardo na noite que se segue, São actos, São sorrisos de quem de si esconde tudo. Vem, Venham a mim as ressonâncias incógnitas Saberes de prismas gelados num corpo hirto, Que se encarrega o tempo de vos moldar, Acariciar, Sobrepor à placidez do áureo O negro que no dia se abate, Vem, ensina-me a sonhar.

O cultivo da amizade

Não sabia, nem sei, o que escrever. Lembrei-me de falar sobre o serenismo o que é (ou será), mas depois de hoje apenas me apetece escrever sobre a amizade. Fico triste, ou talvez não saiba ainda o que sinto, quando se cultiva a amizade, pouco a pouco e, no entanto, chega uma altura em que as pessoas se separam. É tão difícil encontrar pessoas com afinidades, pessoas que são amigos ainda antes de o serem, são de outros tempos, nasce-se amigo sem se conhecer os amigos e, passados uns tempos, encontramos.  Serenismo será não ficar triste? Serenismo deve ser compreender e louvar a nós mesmos o termos encontrado algo mais de nós nos outros e, no final, não nos podemos sentir vazios ou sós, pois somos, inevitavelmente, um pouco mais do que éramos antes de conhecermos os amigos. Somos nós, também, mais um pouco da outra pessoa... Fico feliz por conhecer pessoas espectaculares e isto vai contrapondo-se ao vazio ou "medo" de não encontrar as pessoas novamente. Se as encontrei agora