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A mostrar mensagens de outubro, 2014
Se me visses, de que cor me pintarias? Será que os sonhos se esbatem e orbitam em torno do meu corpo, como uma neblina, uma névoa onde por vezes habito para deixar vago o local destinado à terra?
Selecciono letras para que as palavras possam escolher que frases formar. A liberdade habita no bico, no aparo, na tinta que se desliza pelo canelado friso do texto ainda antes de ser lido. Hoje decidem-se pelo raspar no áspero papel, sem olhar para trás. Palavras de homem, em desejo de rapaz.

Ventos Contrários

Crónica de domingo na Bird Magazine . Gosto de afagar o destino. De lhe dizer, no final de cada dia, que o amanhã será o que ele tiver sonhado, apenas e só, para na recursividade do sentir, ele se soltar desta matriz, complexa, e ser o que é, destino. As tardes vão-se julgando por quanto de sonoridade convexa se expande da televisão ou do computador. Não sejas, materializa-te nas etiquetas do que vês, no rating das tuas (boas?) acções, rasteja sob o jugo do que te impõe quem te manieta, para poderes dar um passo da cadeia à janela gradificada que é a tua liberdade. Enquanto não fores de vento, toda a tempestade te atirará contra o contrário. Amanhã, pelos raiares do dia, ainda que nublado, serás marioneta dos teus sentidos, sem te despedires do teu mais alto ser, percorrerás as estradas e dirás, orgulhoso, antes de trabalhar, que vais à luta. Mas a luta é o teu maior antídoto à dopagem de quem se acerca de ti com o dicionário, em riste, de folhas brancas, com apenas um significado esc
Sonho com a proporção entre o sonho e o sonhado. Desejar sonho e entrar sonhado pelos dias em que nem um, nem outro, fazem crescer o caminho à frente, subtraindo o que se percorreu, ou sonhou, já não sei.

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Crónica de Domingo na Bird Magazine . Foco-me nas nuvens que se vão integrando na paisagem. Já lá tinha chegado o Sol, um matizado de cores derramou-se e escorreu pelo encortinado céu, cheio de pregas e rugas de énios e, depois, a luminosidade deixou-se arrefecer enquanto, juntos, se encolhiam no meu campo de visão. A minha poltrona faz-se plateia, hoje estou cá eu, tenho casa cheia. Instalo-me comodamente, um ligeiro movimento de ombros e estou moldado às costas, da cadeira e às minhas. A nuca encontra o seu lugar na ligeira saliência que se faz encosto. Os braços pousam nos braços, meus no inanimado, o tecido está puído e nunca lhe soube a textura, o meu corpo sempre quis ter raízes, ser terra, dura. Cruzo as pernas. Descruzo as pernas. Não encontro posição para o prolongamento dos meus caminhos. Finalmente deixo-me ficar, relaxado, esquecendo músculos, fixo o olhar no tecto abobadado, calculo rapidamente o volume semi esférico daquilo que penso e, se existo, deixo-me obliviar para
Pouco de mais resta que o menos ao lado do subtraente. Os caminhos acima do solo são percorridos sem caminhar, as órbitas caóticos de um universo multifacetado são apenas o olhar pela espiral descendente que nos leva de volta a nós próprios. Do que hei-de dizer, hoje, que o Sol nasceu a Este, sem o fazer para este, que vai já a caminho de um novo paradigma? Boa viagem.
À sombra de um aguaceiro, espero que o frio arrefeça só para sonhar com um fim de tarde sentado, aninhado, com o calor de um pequeno púcaro de café, as migalhas no colo, mãos aquecidas e um mundo húmido visto pelos meus olhos. Adormeço a contar pingos de chuva, cada vez mais distantes, até serem o ruído branco que me guia o espírito de volta a ti.
As palavras foram atiçar o lume, para se deitarem sob a minha cabeça e adormecerem, enquanto chove lá fora e troveja dentro de mim.
Deixei que a chuva caísse em quantidade suficiente para me levar os rastos que deixei até chegar aqui. Agora, para trás, num passado que não existe, já não existo. Nada existe. Acumulo em mim tudo aquilo que penso ter havido, no corpo, na mente, na alma. Amanhã, que ainda não há, nem sequer o segundo seguinte, terei um pouco mais de mim, de ti, de quem me vê pregar em silêncio longos sermões ao vento que passa, só para me sentir, novamente. Ontem não existe, não existiu. Hei.

No lado de lá do chão

in Bird Magazine . Não vou pensar nas voltas que dou em torno do eixo deste planeta. Hoje, ainda que adormecido, serei centro do que me rodeia, enquanto todos vociferam e, sem o saberem, desesperam. A vida pertence à vida, eu que o viva, se vivo sou, para ser o local onde não estou e chegar lá sem me conhecer. Somos aquilo que sabemos ser, ainda sem antes nos debruçarmos sobre o parapeito, por entre as cordas e o colorido das molas no estendal despido. Seco transpirações e aquilo que me obrigo a vestir. Tacteio teclas sem emitir notas, apenas o desejo de te ver atrás desta parede, adormecer, dormir, dormires e eu ser teu, sem nunca partires. Não entres tão depressa no sonho, pouco me resta que o travo e aroma indistinguível de um medronho, sem embriaguez, sem qualquer cálice para onde escorrer a seiva, sem um carreiro, uma leira, para onde me dirigirei quando enfim me diluir... Eu, que nem sei para onde estás a ir. Gosto de enganar o destino e caminhar cabisbaixo umas dezenas de pass
Vou caminhar a uma só letra. Passos correrão, certamente, para que do agitar da geada que se forma enquanto durmo novas grafias transformem palavras em dias. Faz-me falta calendário, em branco, para prolongar presentes e colmatar passados, ali, com o futuro ao virar da folha rasgada pelo picotado.