A saudade cabe-nos na mão
“A saudade cabe-nos na mão”, crónica de Domingo, na Bird Magazine . Pelo caminho para a escola havia de se passar por uma fila de casas que se comprimiam ao longo das portas e janelas rendilhadas, parecendo que alguém teria feito daquele aglomerado uma concertina em tamanho grande, comprimida, sem fôlego, à espera que por algum desígnio se conseguisse escapulir e expandir, libertando a sonoridade a que isso fora vetada.Tudo é permitido à imaginação quando se tem olhos de criança. À janela, outrora, cabiam sempre as mesmas vestes negras sob a padieira, as faces enrugadas e o horizonte ainda curto, cujo tempo faria o favor aos homens de desbastarem primeiro as copas das árvores, depois o resto das mesmas e, por fim, o monte todo, dando azo agora a ver prédios e estruturas inimagináveis noutros tempos, talvez porque noutros tempos a imaginação era parca, limitando-se a descortinar sombras entre esteios e medas de palha e lançar os boatos e lendas de gente perdida pelas colheitas e os an...