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A mostrar mensagens de outubro, 2018

Pessoas com gente no olhar

Pessoas com gente no olhar , a crónica de Domingo, na Bird Magazine . Há pessoas que transportam no olhar aquilo que são.  Levam gente delas mesmas, sonhos e cansaços que almejam subir a um patamar que vai aquém daquilo que os olhos vislumbram. Não há local onde passe que não me pertença e ao qual eu pertenço. A vegetação. As pessoas. Tudo, assemelha-se a um respirar, a inspiração e expiração do que me habita e permite afirmar, ainda que inocentemente: estou em casa. O vento, amigo de há longos anos, tem-me levado para locais onde posso observar um pouco mais, onde posso fechar os olhos e ver a paisagem, as gentes, os sons dos grilos, a água fria e límpida, as sombras dos pinheiros retorcidos pelo vento da montanha e a montanha dentro de mim cujo cume nunca atingi(rei). Cogito sobre as pessoas que passam por mim na estrada, paradas, em movimento, o seu dia-a-dia é de facto um quotidiano, um dia de cada vez. O domingo da missa pela manhã, outra qualquer diuturnidade que so

Vai tocar para dentro!

“ Vai tocar para dentro! ”, crónica de Domingo na Bird Magazine . O ano lectivo começou há semanas e continua a surpreender-me pela facilidade com que me transporta para algumas órbitas atrás, quando o cosmos parecia menos caótico e as pessoas bebiam do quotidiano apenas pela necessária sede. Ao ver putos espalharem com desprezo os materiais sobre a superfície de madeira, remeto-me para os corredores superpovoados de crianças ávidas e embriagadas pela oferta. Nesta miscigenada cascata de futilidades e porque as minhas mãos se transportam vazias, para que abracem quando assim tiver que ser, deixo descair o corpo para que me embale a memória e me transporte para os primeiros dias de escola, quando aprendíamos sem saber e o recreio dividia o protagonismo com o Universo, qual deles senhor do melhor e mais vasto horizonte. Quando a brisa acima do umbigo trazia também o entardecer arrefecido do início de Setembro, assinalava-se o sinal inequívoco que as férias ficavam agora a estagiar nas a

The answer is blowing in the wind

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“ The answer is blowing in the wind ”, Crónica do Nada no Correio do Porto . O dia amanhece alvoraçado, não insistisse o Sol em nascer a este donde estou, diria que o crepúsculo se fazia anunciar pelas nuvens negras de fuligem. Vai quente Outubro e certamente algum provérbio popular terá resposta ao amordaçado bafio que se encosta a mim numa lânguida provocação. De costas para mim, para o perigo diria, também, trajando verde tropa, uma espécie de soldado apetrechado no ofício de desimpedir a golpes de fios grossos de plástico, uma catanada aqui, uma cavadela ali, o soprador encostado esbaforido à borda onde o penedo se protubera na mimificação expressiva e clássica de quem afaga a barriga, camisa aberta, o baraço ardente a pender dos lábios encarnados e encardidos de cieiro e cerveja seca. Desligo o carro, a manhã de sábado, fresca ainda, espera por mim como eu espero pelo regresso resplandecente da minha ignorância infantil de pensar que o céu nocturno é um esburacado lençol a tapar