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A mostrar mensagens de novembro, 2010
Sei que é Inverno pelo sorriso do frio quando me sobe e encontra as paisagens que me preenchem as mãos.  As mesmas mãos que te abraçam quando adormeço.
Já tinha tomando o tempo quando se virou a mim a noite. "É escuro", surgiu a medo. E eu, tolhido de cansaço, voltei costas à sombra e deixa-a a falar sozinha com o barulho. "É escuro", continuou. Mas já lá eu não estava, voltado de costas ao mundo, segurando ao ombro a manta retalhadas de serapilheira com que me cubro, caminhei até deixar para trás o corpo. "É escuro", murmurou. "Eu sei"... "Abre os olhos"

(a)Manhãs

Questiono-me se és tu quem me quebra o silêncio, se a sombra que se aninha a meus pés possui laivos de infância e sorrisos que ocultam a distância. É ao Sol, ao sul, que as cores do arco-íris rebolam na mão e caem, cansadas, crianças, no odor fresco da Primavera que recordo, com a saudade de não te saber aqui, a meu lado, saciando o silêncio expelido de meu punho calado, sem encontrar a cor que te vê crescer, tropeçando e caindo nas palavras que guardo nos olhos, para mais tarde as dizer.

Val(idade)

A imagem da serenidade e passividade. Um trabalhador dos jardins da C.M.Porto faz uma pausa para o lanche da manhã, ao Sol, sentado numa cabina telefónica enquanto que com um pé balança o carrinho, como que embalando as folhas que apanhou...  Simples.  Valioso.

(tún)eis

Aconchego a noite antes de me deitar, volto as costas à lassidão para languidamente me encostar ao musgo que desponta no muro sem caminho. O cinzento cinzelado do vento frio que se acomete é o calor humano que rodopia errante e desaparece. Há vida nas entrelinhas, são meus túneis os vazios em que habitam nos dias nascidos do crepúsculo, para ornamentar o destino que se escreve grande e se recorda minúsculo.

Des-a-fio

Os versos que desafiei moram nas quadras que me venceram, há um tumulto desafinado no ar pelas vozes murmuradas que açoitaram o ocorrido grito "aqui d'El Rei". Ainda que escreva a correnteza jamais o leito me leva a divagar, que meu barco ancorado no horizonte é bitola difícil de moldar. E é, assim, no arrastar silencioso das gotas que me permito chover às letras, gravando no escuro as idas e voltas, escondendo o mundo para que apareças.

Po(nt)e(s)

Um soluçar, na noite, baixinho, em tons de ponte entre mundos, na amedrontada sombra que prostro, vou galgando dimensões para longe daqui, até me ver, novamente, dentro do soluçar, na noite, baixinho, em tons de mundo entre pontes.

Macete

Baixa-se, do alto de uns bons 60 e muitos bem vividos, como sei? pelo sorriso, apanha dois paralelos, levanta-se, atira-os para o chão, em cima da areia, ajoelha-se como quem venera, pega na maceta, duas catrapadas em cada um e está composto o chão. E ste movimento repete-se, até a vala deixar de o ser e ele, levantar-se de vez e caminhar, quase em direcção ao pôr-do-sol, maceta na mão e a vida na outra.

Quê

Há um quê de algo nas pessoas vazias que tornam o mundo mais frio e pobre de cada vez que fazem voz ao silêncio que as habita...

Med(r)onho

Medronhos, como há muito não os via ou saboreava.  E o vento, nos eucaliptos, o sino, na igreja, repicando.  Há mortos esmorecendo nas portas dos cemitérios, abandonados eternamente pela saudade de quem se esquece.  Tragam flores e velas, das que cheiram e alumiam, para a noite que nunca se põe no amanhecer do crepúsculo.  "Está morto?" "Sim, mas não lhe digam."