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Descalço-me, sinto a terra, quente, nos meus pés...  Algures pelo Universo, este berlinde rodopia e rodopia-se, incessantemente, durante anos e segundos.  Não consigo deixar de me sentir rodopiar, agora, no portátil, numa lagoa do Alvão ou num dos muitos recantos do Gerês... Quantas partes de mim se escondem num tronco, num animal faminto, numa cereja amadurecida, numa chuva quente de Primavera, num olhar pelo horizonte, num país qualquer que me acolha como voluntário.  Lentamente, a minha unidade e identidade separam-se para percorrerem todos as dimensões que desconheço. Vou construindo as frases como quem se recorda do útero, como quem tenta, entre pinceladas, o traço fino com que desenho o dia de amanhã. A poesia, a prosa, tudo o que seja escrever, pensar, verbalizar, contextualizar, tudo me foge das mãos para se esconder e partilhar com o vento, esse sim, viajante eterno que se esconde onde todos o encontram. Faz-me falta a caminhada, o sentir descontraído ...
Vi ontem, na televisão, por terras de meu coração (Alvão), um pastor, cara voltada ao chão, a timidez de se ser grande, respondendo à pergunta da jornalista ("E isto causa-lhe prejuízo?") com "É ao gado, que não tem que comer"... Eu sou daquilo, de pastos que crescem, mesmo com a neve. Voto à pobreza a minha sobriedade, casto o pasto em que te deitas na dureza da tua idade. Vento o ar e o trombar e as cruchas ébrias de saudade, faço-te de mim eu para que não pare o tempo em qualquer estrela que nasceu... Ah, como te subjugo, à vontade e vaidade de rodar sobre o vácuo! Que de minhas mãos pende um jugo e dos olhos algo, nuns temperam a vida, em mim saboreiam as pequenas covas do teu pranto. Estou pronto!