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A mostrar mensagens de setembro, 2007
Al Ua
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É tão tarde, eu quero dormir, todas as partes do meu corpo querem dormir, mas eu tinha que vir aqui, tinha que vir dizer-te, antes de qualquer pessoa, antes que olhes e vejas a diferença. Fui com os meus pais a casa. Espera. Enganei-me, tenho que dar um fio condutor a isto, não que seja primordial, mas para que fiques a saber tanto quanto eu e compreendas como tudo aconteceu. A Ana faz anos, aliás, fez, porque é já dia 27 de Setembro, tivemos, a exemplo do ano anterior, a família toda aqui e, na hora de ir embora, aproveitei e fui com os meus pais a casa deles. Encontrei, no sábado, umas pilhas para a minha lanterna e e fui munido para a luta com a noite, calções, t-shirt, chinelos de praia e lanterna, a minha companheira quase inseparável. Ia à frente, iluminando o caminho, mas nem era preciso, a minha amiga Lua estava no seu esplendor, desconfio que esteja apaixonada, tal é o brilho que ostenta. Deixei os meus pais em casa, fui ao computador...
Guarda-me o sonho
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Entrego-me, nos teus braços meu sonho a quem um dia chamei filho. Embala-o, adormece-o ao som da magia e das estrelas, afaga-o com os restos do meu amor pois a paisagem dos meus olhos está agora vazia. Dá-lhe o meu sorriso, saiba ele que um dia alguém o amou, com a força da vida e a ternura do crepitar das lareiras em noite de Inverno. E quando ele crescer, de criança a florir a rugas de candura a viver, diz que o amei mais que um infinito escondido na algibeira de uma criança. Nas sombras despontadas da árvore dos medos, entrega-lhe o meu nome para que saiba, então, não existe horizonte mais longínquo que um sonho não vivido na palma da tua mão...
Dois palmos de terra
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O vento, uma margem de um livro, um regaço de mãe saudade, uma nuvem sorridente, quanto mede a ilusão? Sei-te colorida, nas tardes de Outono em que o feno cheira a amor e as folhas caídas, mortas, fermentam nos olhos uma flor. Há pessoas sem haver que vivem num eterno Inverno, amordaçadas pelo sussurro da futilidade, que me chamam bruxo e sonhador, que pensam o mundo em dois palmos de terra numa vazia herdade. Sono, é nome de entrada e saída da vida que adormece, é visita que mora atrás das nuvens, é eterno vagabundo numa estrela sem dono. O vento, um livro numa margem, saudade de um regaço de mãe, sorrir para uma nuvem onde mora a paixão. Cabe muito, muito mais, em cada suspiro que canto na palma da minha mão.
Noites claras
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Era invisível o fio fino da mão que me manietava, galopava de estrela em estrela e caderno em caderno, para quem o oscilar da saudade fosse foice que rasga a seara a despontar. Enquanto te escrevem e violentam as faces que ofereceste, sento-te no meu joelho e conto-te histórias e dias que vivi, mas não sei onde as guardo. Sei-te em mim e em ti as noites claras que se penduram nos meus olhos. Choro-te só, assim, quando me beija o vento e tu páras, para me semeares (passados) sonhos.
Para lá do que vejo
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" Para lá do que vejo " é o nome da minha primeira (e talvez única) aventura literária. É um pequeno livro com alguns poemas, alguns dos quais estão neste blog (não inclui os mais recentes). Tem capa dura, o que lhe dá uma rigidez que nunca consegui imprimir nos meus poemas. A data de lançamento está a ser cogitada, mas eu gostaria que fosse para amigos e pouco mais. A editora (a quem comprei os livros, claro) está já a aceitar encomendas no site, ainda antes do mesmo entrar em circuito comercial. Se quiserem encomendar, podem fazê-lo no site da editora, basta acederem a www.corposeditora.com , pesquisar "José Miguel Gomes" e, lá, encomendarem os que quiserem. Obrigado por terem comentado, apesar de gostar de escrever, os vossos comentários ajudaram a que decidisse passá-los para outro registo. E assim nasceu um sonho, pequeno ou grande é meu e, agora, quero compartilhá-lo convosco. Fiquem bem.
Obrigado
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Sabes, escrevo, leio comentários e todos, mas mesmo todos, conseguem alegrar-me, mostram-me um pouco daquilo que eu desejo transmitir e que só sei se "chegou" com o vosso feedback. Ao longo deste tempo nunca cheguei a dizer-te, ao ouvido, para que mais ninguém ouça e as palavras não percam a força e intensidade ao tocarem no vento, a palavra "Obrigado". Obrigado pelos comentários e o carinho com que sinto cada letra. É bom. É muito bom.
Disclaimer
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Olá, tudo bem? Ao longo destes anos que tenho escrito aqui, creio nunca ter criado um disclaimer , um elucidar sobre este blog, o que pretendo, a razão do nome e mesmo o porquê do que escrevo e o que tento transmitir. Agora não posso, apenas porque as letras ficaram do lado de lá da janela, recusam-se entrar no escritório, creio preferirem ir à varanda e olhar as pessoas que passam, em busca de histórias que as acompanham e, assim, namorarem outras letras por momentos, mesmo que apenas as minhas palavras as vejam e nem mesmo eu as conheça. Começa por ser assim, as minhas palavras vêm histórias que não vejo e só depois de elas me descerem aos dedos, letra a letra, e escreverem num papel a sua história é que tenho contacto com o que elas viram. Escrevo essencialmente deitado, sobre o meu lado esquerdo, com a almofada dobrada para ficar com a cabeça mais alta, mão esquerda a segurar o caderno e a mão direita vergada ao peso das palavras. Geralmente a Ana está a dormir e quando as palav...
Descansa
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Encosta em mim o teu cansaço, deixa que o cabelo caia ao ritmo de uma lágrima. Aguarda-te o sono no meu regaço e três gramas de alegria, vem, vira a página à tristeza. Lê-me nos olhos as vidas que dançamos, as nuvens que beijamos nos sorrisos espartanos. Leva-te pelo sonho além, adiante do que não será nas asas que te voam nas invisíveis cãs. Esgrimo a sombra e vultos com silêncios ruidosos, deito-te no leito que nasce na palma da mão, a minha, antes de te afagar tinha nome solidão. Banha-te a noite e gotículas de luz na face. Nasce a vida trémula e luzidia porque o Universo chorou, ao saber que de teu olhar um sorriso fugia...
Desfolhada de noites
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Folheei-te tantas vezes que sou mais livro nas tuas palavras. Desfolho-te pleonasticamnte, folha a folha, e cubro-me com sonetos. Tricoteio um Sol num céu azul com os teus parágrafos, pinto-lhes o vento frio das manhãs de Inverno que sopra ao virar da tua lombada. Deixo que o sono venha e me alcance, sem eu reparar, quando nas minhas mãos moram letras perdidas, saltadas das tuas folhas que fazem minha redoma. Nunca te pertenceram, adormeceram nos dedos e acordaram quando friccionadas em veneração (quem és, espécie de ilusão?) às palavras invisíveis, que agregam e escondem os olhares sem dono.
Apenas porque...
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Deixo que a tinta escorra para a outra face do papel. Grafo as palavras num sentido de catarse de tela no pincel. Contra-mão as palavras não proferidas teimam em ferir, morrem ainda os sorrisos por sorrir. São-no como o nada de umas letras no espelho, fúteis e banais como um rubor jamais vermelho. Planaram solidamente na agrura do fingimento, sorriram da noite escura apenas porque, apenas porque… Porque almejam o vazio pensando alcançar-te firmamento… Estatelam-se nas minhas mãos vidas que carreguei em sonhos que pari, varro os cacos da ilusão que povoam o polvilhado areal, que faço meu chão. Não nasceu ainda o dia e já eu sou madrugada, percorro a grafia da outra face, talvez errada, talvez fria, enquanto o respirar impele o peito ao céu o retrato vive por quem viveu. Viro a página, tenho letras marcadas onde julguei existir um espaço em branco. Subo os degraus, tenho órbitas vazias onde julguei encontrar um sorriso franco. Apenas porque sonho…