Rosa vermelha

Era perto das 20:30, entrada de uma grande superfície comercial em Penafiel, entrei com a Ana e logo à nossa frente estava um homem, ar humilde (não era o ar ambiente, era mesmo o olhar que o vestia), com um fato gasto, azul escuro com finas riscas brancas, um cabelo semi-penteado, ou melhor, um semi-cabelo penteado, uma cara gasta e um olhar que não sei descrever. 
Ao seu lado estavam algumas sacas de plástico. 
Tinhas botas, castanhas, escuras, castanhas de origem e escuras de tempo. Mas o que mais me atraiu, o que os meus olhos gravaram, foi a rosa vermelha na lapela. Aquela flor conferia ao cenário um toque de génio, é como quando tentamos desenhar algo, escrever umas linhas, mas sabemos que falta algo para terminar, uma pincelada oculta, uma linha mais no poema, assim era a rosa. Desconheço a razão, seria um encontro? Não sei.
Seguimos para uma loja, tentar ser mordido pelo gordo cão do consumismo, e quando voltamos ainda lá estava. 
Fizemos as compras, andamos de um lado para o outro e quando saímos, lá estava ela, a rosa na lapela, assim como ele. 
Chegamos ao carro, pousamos as compras na mala, a Ana entrou e eu, quando fechava a porta com pressa, para fugir da chuva, algo puxava o meu casaco. Voltei e com os olhos semi-cerrados pela chuva, vi-o. Um rosto de menino. Aquele que me acompanha por vezes em tantas viagens. 
Tirou uma mão do bolso e mostrou-me uma pequena bola de algodão-doce, o sorriso perguntava-me se podia, apenas encolhi os ombros e sorri também, como que anuindo. 
Entrei depressa para o carro e só o vi, pelo espelho, sentar-se ao lado do homem da rosa na lapela e oferecer-lhe aquele pequeno berlinde de algodão-doce… O que se passou? Não sei, não vi o desenrolar da história e agora, que a queria contar, ele está deitado aos meus pés, olha para mim ensonado e diz-me: estou cansado, posso contar amanhã?

Comentários

mnemosyne disse…
Sorrio...aprecio os teus textos...escuto-lhes os sons e as falas...gosto da forma como enlaças as palavras.
Um beijo
Serenidade disse…
Pois bem meu querido amigo, o rosto do menino que te acompanha deste menino não é mais que o menino que ainda existe em ti desde sempre e para sempre(no meu humilde ver e não querendo ser detentora da verdade, é epnas uma manira de ver as coisas). A doce criança que continua a querer ajudar todos mas como o involucro de adulto deixou de permitir de uma forma tão explicita tu mantiveste-o na penumbra do teu ser para que ele possa fazer o que tu queres mas o corpo não permite. Mais uma história surreal, tão verdadeira quanto as outras...
Um beijinho sereno.
Zé Miguel Gomes disse…
Olá "Serenidade", de facto, compreendo o que escreveste, mas longe de mim estar a escrever em metáfora aquilo que sei ser verdadeiro...
Deixa-me explicar melhor, as minhas histórias são ficções, começam de uma forma imprevisível e terminam de forma igualmente imprevisível... Por vezes têm lógica, mas na maioria, são apenas ilusões, ficções, sonhos ou outra coisa qualquer...
Não me tento exprimir pelo que escrevo :) Apenas gosto de escrever e c'est ça :)

Fica bem,
Miguel
Anónimo disse…
Podes sim... pergunta ao menino, se a Fada Meldemim, ou a Karmel como me chama um amigo, pode vir ouvir a história... ela que é uma incorrigível contadora de estórias ...
A Rosa? Não sabes?
Posso contar? Terás que ir espreitar à "Janela da Fantasia" ...
Mas sim, dou-te a chave! http://blog.comunidades.net/magiademel/index.php?op=arquivo&idtopico=132637

Este castelo está encerrado ... A Fada emigrou ...
Mas vai até lá, a Fada abre-te a porta.

Agora, só mesmo no sapo ...
Vou gostar de te ver por lá.E quem sabe, não quererás agarrar uma ponta do meu Sonho (Um projecto Humanitário...)


Foi um grato prazer te conhecer "Serenismo".

Um abraço ou um beijo, como quiseres

Mel
Anónimo disse…
Miguel:

Esse menino na minha interpretação da história só pode ser uma pessoa: tu. Todos nós ao longo do nosso crescimento vamos adquirindo novas aprendizagens e modificando certas características psicológicas e físicas...mas e tudo tem um mas...ficamos com a inocência que tinhamos quando crianças...e triste é se a perdemos. É tão bom comer chupas-chupas como quando eramos crianças. É tão bom que a minha mãe me cubra com o cobertor como quando era criança para dormir. É tão bom comer chocolate e ficar toda suja como quando era criança. É tão bom saltar e rir sem vergonha e cantar desafinado como quando era criança. Este menino ou menina que todos temos apareçe e Miguel é mais forte do que nós ...sentimos liberdade e felicidade quando deixamos que ela se aproxime de nós. Vou contar um segredo: eu gosto da "Kitty" e tenho um relógio com esta boneca, tenho uns lápis de cor (uma vez uns alunos riram-se quando viram no porta-lápis), tenho pijamas cheios de bonecos e adoro infantilidades. Esta menina às vezes até me deixa ficar mal como com os lápis de cor que nem sequer uso porque estou num estádio mais avançado de desenvolvimento mas não resisti a comprar devido ao amoroso da peça.

Bem...termino dizendo para o menino se portar bem e dizer:

Obrigado por escreveres


P.s. Gostei do cenário da rosa vermelha porque é como um quadro no qual aparece um pormenor que faz toda a diferença.
Cris disse…
Gosto muito das tuas histórias. Contas mais amanhã?

Bjos e bom Wk

Cris
antónio paiva disse…
................
podes sim, eu tenho tempo
................
Anónimo disse…
É só para dizer que fiquei colocada. Ainda estou anestesiada. Venham os putos que eu aguento.

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