Torrada ou Maria?

O divertimento das escovas gastas e a chiarem vai ter que acabar, hoje constatei que estão de facto muito gastas e embora me divirta a ver os carros duplicados, se alguém da DGV vê este post é provável que me denuncie e não estou numa altura em que pagar multas seja um desporto, que se pratique de ânimo leve.

Vinha cansado, disposto a tomar um banho e dormir, mas o estômago também fala e à minha espera tinha outra parte de mim, a Ana. Sentei-me, tomei o meu leitinho com bolachas e o normal seria terminar aqui, tomar uma banhoca e dormir, mas não, não foi normal. E não foi normal porque além do leitinho, tinha umas bolachas, várias bolachas ou tipos de bolachas e dou por mim a olhar para uns anos atrás, ainda criança, sentado num banco com tampo em fórmica, frio ao primeiro toque, com os braços apoiados na mesa, também de fórmica, com um pano azul, bordado, e em cima, a fumegar, uma chávena de leite com mel. O cenário mudou, obviamente, mas o sentimento é o mesmo. 
Recordo, com um brilhozinho nos olhos, o luxo ou diferença que era ter alguns pacotes de bolachas. Na altura eram apenas duas qualidades, as bolachas Maria (ah grande bolacha!) e as Torradas. Pouco tempo depois surgiram outras, mas não eram compradas tão frequentemente, creio que tal facto se devia à minha gulodice, bolacha nova, mais doce, era sinónimo de acabar rapidamente. Além das duas variedades que mencionei, surgiram outras duas, as Alfa e umas outras que não sei o nome, mas recordo do sabor e da forma, pareciam de aveia, eram mais “espessas” na boca e a sua face era quadriculada.

As bolachas Maria eram óptimas para molhar no leite, enquanto que as torradas eram fantásticas para o café. Café do bom, feito na cafeteira da minha mãe. Fantástico.
As outras bolachas eram apenas para o leite, de preferência simples.

De quando em vez, numa altura de aniversário especial (o meu ou da minha irmã, porque os meus pais nunca valorizaram com bolachas especiais, ou qualquer outro luxo, como seu próprio aniversário), surgia a embalagem de sortido. Era um deleite, a boda de um rei! Corria com o olhar a caixa, tentava adivinhar se eram os sortidos de dois pisos ou de apenas um. Dois pisos simbolizavam mais contentamento, afinal eram duas camadas de bolachas! Rapidamente via a variedade que, curiosamente, não mudou muito desde os meus tempos de garoto com sonhos grandes em olhos pequenos. As bolachas baunilhas cobertas com chocolate eram as minhas favoritas, não só o seu exterior era belo, de chocolate, como o seu interior era fabuloso, de baunilha. Tal como muitas pessoas.
Depois surgiam as outras variedades de bolachas cobertas de chocolate, até parar nos “tubinhos”, bolachas com recheio e as “restantes”. Era uma felicidade. Aliás, todos os tempos eram de felicidade, pois qualquer coisa nova era sinónimo de boca doce (ah, também os pudins boca-doce, nos copos de plásticos, que saudades), de sentar à mesa e sorrir. 
Ainda hoje é tempo de sorrir, de ver que as lembranças nas quais me ergo são letras de ouro bordadas no meu coração, na minha alma.

Há coisas que a apenas nós nos fazem sorrir. 
Será que despertam um sorriso em alguém? 
Terão estas linhas o condão de fazer sorrir alguém? 
E que sentimento é este que me impele a escrever, a anotar estas memórias? 
Para quem escrevo? 
Para mim, certamente, mas se eu já tenho estas memórias e, diga-se em abono da verdade, muitas vezes saltam a meus olhos, porque necessito de as escrever? 

Bem, é tarde. Espero que o barulho do computador não acorde a Ana, que já dorme serenamente.

A maior felicidade é constatar que, mesmo inconscientemente, todas as minhas acções foram felizes, que todos os gestos de meus pais me proporcionaram uma felicidade máxima, extrema.

Fiquem bem, as memórias e vocês...

Comentários

Cris disse…
Bolachas Maria no Leite e Torradas para o Café de Cevada, pois, porque eu não podia beber café qdo era pequena..... Boas recordações, sem dúvida, trazem de volta a imagem da minha avó, que tantas vezes partilhou o ritual da bolachinha com o Mokambo, ao fim da tarde...

E a bolacha maria no yogurte? chegaste a experimentar?

Gostei do teu espaço. Obrigado pelas memórias.

Cris
Ana disse…
Li este teu post com um sorriso nos lábios e um brilhozinho especial nos olhos... Porquê?! Porque me fez recordar os meus fantásticos lanches da minha infância... Nessa altura passava as tardes ou em casa dos meus tios ou dos meus avós e os lanches incluiam sempre leitinho com chocolate (na altura na bebia café...) e claro, bolachas Maria ou Torradas... Confesso que a minha perdição são as bolachas Maria acompanhadas de geleia...Hummm... Também tenho na memória a expectativa que era abrir uma caixa de sortido da Cuetara (passo a publicidade)... para poder deliciar-me com as bolachinhas embrulhadas nos diferentes e coloridos papeis...
Belas recordaçoes estas.... de tempos em que os lanches tinham outro sabor...

Obrigada por me fazeres recordar momentos tão doces...

Agora vou atacar o pacote de bolachas Maria com geleia... recomendo...

Beijinho e fica bem!
mnemosyne disse…
Retrocedi no tempo....há memórias que nos fazem sorrir :) Um beijo
crispipe disse…
Eu não molhada no leite nem no café mas barrava-as com muita manteiga. E o sortido.......mhmmhmhmhmhm..... que saudades

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