Um amigo gigantesco!

Há marés, como se diz na minha terra, onde aparece tudo de repente. Ando uns dias sem escrever no blog e depois, quando toca a maré, venho para aqui escrever sobre tudo e, quase sempre, sobre nada.

Por vezes escrevo sem saber o porquê, apenas me apetece e é razão mais que suficiente. 

Estas noites frias, cada vez mais frias, embalam-me num torpor agradável, catalisam a neblina que começa a descer sobre os meus olhos e onde se movimentam outros corpos que não conheço. As zonas do céu onde não existem nuvens permitem ver estrelas, aqueles pontinhos brilhantes sobre um azul mais claro que o habitual, haja Lua para nos iluminar! Por vezes, mas só por vezes, o Universo parece querer brincar jogos comigo, quando penso em algo ouço o seu murmúrio “olha para cima”, olho e vejo, naquele preciso momento, uma “estrela cadente”. Cá entre mim e esta folha de papel, é a sua forma de me sorrir e eu retribuo, com um piscar de olhar. Tenho um amigo mesmo grande, não tenho?

Ainda sobre as bolachas, começo a compreender de onde vem a minha empatia com as bolachas baunilha. O meu pai foi comendo, comendo, comendo, até ficar apenas uma. Confesso que a deixou não porque não lhe apetecesse, mas porque é a regra da gente simples e boa, como o meu pai, deixar a última bolacha. E no meio disto tudo, enquanto olho para ele com olhos de gente grande, a neblina inunda a sala e à minha frente está uma criança, simples, de sorriso tímido, a olhar para a bolacha baunilha e para mim, e eu olho sorrindo, como que a consentir, e aquele sorriso de agradecimento que apenas eu e a neblina vimos é o reflexo mais tocante do Universo, do mesmo que me sorri.

Embora com 30 anos, a caminho dos 31, adulto (aos olhos dos outros), reflicto sem qualquer tipo de dogma ou ideia pré-concebida, sem medo de me mostrar porque não tenho medo de mim mesmo e as opiniões dos outros não são mais que a noção deles de realidade, a cada dia que passa aumento (talvez devido às bolachas!) de tamanho, a cada dia sou mais eu porque constato que sou muito de outros. Não, no meu peito não cabe todo este sentimento. A felicidade é maior do que eu mesmo, expande-se tanto de mim que temo vir a implodir. E quando impludo apercebo-me, afinal sou apenas um pontinho brilhante, maior que eu ou que todos juntos, um ponto invisível onde o nada impera, quanto mais de mim, mais dos outros me completa. Sinto-me pleno e vazio, onde cabem todos os outros e outras estrelas, acima da neblina, onde o Universo é apenas uma distância milimétrica de mim a mim mesmo, onde tu, que lês estes devaneios, sorris e dizes: “mais um que endoidou”.

Pouco importa o que sabemos de nós, dos outros, de quantas estrelas brilham no céu ou de quantos sorrisos o Universo nos dá. O importante é o que fazemos com o que somos.

Comentários

mnemosyne disse…
Gosto de ficar suspensa nas tuas palavras :) Um beijo enorme
Dafne disse…
Obrigada Miguel pela simpática visita ao meu blog e por te teres dado a conhecer...
Olha, um dos meus vícios são as linguas de gato, conheces? Devoro-as....
Um beijo e volta sempre.
Anónimo disse…
Boa noite

A imagem que transparece das linhas que escreves é que és um ausente mas sempre muito presente. Não, não estás louco.
Talvez alguns é que o possam ser quando olham para alguém que sofre e reagem como quando estão à espera do autocarro.
A tua alma parece especial porque consegues abrir as janelas que bloqueiam no meu e por vezes no cérebro de muita gente.
Pareces daquelas pessoas que não te reges pelos outros e se para muitos cantar os parabéns e beber um copo é "fixe" porque o vizinho também faz para ti parece não ser assim.

Autenticidade é a palavra chave com que me deleitei ao ler o texto.

Continua autêntico

Duma colega
Serenidade disse…
Sem dúvida "o importante é o que fazemos com o que somos" e é importante que nos apercebamos que todos somos Um de Um, que somos todos na sua essência Amor.
Quero continuar a ler-te a dizer, não que endoideceste, mas que és um dos poucos que mais perto da realidade está.

Um beijinho sereno
Anónimo disse…
Tu não endoidastes Miguel!
Quanta ternura e sensibilidade senti ao ler teu texto! Achei lindo quando você escreveu que sobre "os olhos adultos fitando o teu pai...! Que lindo! Parece que tem uma momento na vida em que invertemos os papéis de pais e filhos, não concorda? Te encontrei no blog de uma amiga e resolvi te visitar... Foi muito bom. Virei outras vezes, adorei. Venha me fazer uma visita, ok? Meu blog é simples, mas é um lar aberto para meus amigos.Um abraço carinhoso.*Juli*
Anónimo disse…
olá;)
E que tal um tchim-tchim com "oreos".
Adoro estas bolachas..
Anónimo disse…
Mais um q 'endoidou?!
Não... apenas mais um q pressente/sente 'finalmente' que o Universo é um todo!

Bom f-s!

bjs

[de preferência sem mtas bolachas]
:)

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