Oração solitária
Pende-te um rosário invisível das mãos e a vida, contas as contas gastas enrolando-as nos dedos cobertos de rugas e calos, de os teres sabes já de cor anos e meses e dores. Fogem-te os movimentos de doenças e maleitas que não sabes o nome, de vago e vazio teu estômago não sabe o que é a fome, trajas de preto no dia porque a noite te levou a matiz quanto teu Sol partiu para longe, em terra cujo nome não se diz. Onde guardas a juventude? Quantas desfolhadas e vindimas e madrugadas de geada, quantas? O teu mundo repousa nos dias que trazes nos olhos que inundam quando o bailado das searas te faz viver os sonhos, mas estes são um, um só, cravo não florido no jardim das tuas mãos agrestes. Fechas os olhos, uma mais com a força da idade para que cheguem ao céu, as voltas do mundo que trazes no coração são histórias vívidas que nunca esmaecem, são atilhos curtidos que comandam e afagam cada letra invisível na minha mão.