Desacordadamente
Crónica de Domingo na Bird Magazine . Existe uma forma simples de começar o dia, acordando. Parece-me que a fórmula para a vida se baseia nisto mesmo, acordar. E nestas questões matutinas, seja lá o momento em que despertamos, parece-me que envolve um amanhecer para cada pessoa. Por exemplo, eu acordo apenas quando me permito andar, ainda que mancando, como agora, fruto de uma herniação discal bastante chata e dolorosa, saio do asfalto ondulado a que comparo com uma vaga ondulante no Atlântico e, alçando a perna, passo para a terra castanha, saibrenta, com restos de tonas ou cascas dos eucaliptos, pequenas pedras e raízes resistentes de árvores e arbustos que não existem mais, a que comparo ao extermínio da bondade humana pela ceifa certeira e acutilante no silêncio entre as imagens estáticas que a televisão nos vai permitindo cegar. Só aí, no monte, no cheiro a terra molhada que trago no palato, ainda que esteja, como agora, um Sol de Inverno ainda que seja Outono e eu, no te...