Agora que o dia ausenta as sombras vítreas que me nebulam, saio no vaguear da noite optando-me vagabundo, sem amaras que não a própria vida, vou lesto e nu porque nada me veste além da luminosidade obscura que orvalha dos candeeiros solitários. Dispo-me enquanto se vestem, do berço até aqui, peça a peça, para me deitar em palhas dormindo, a saga de levantar nada e querer poder tirar pele que seja, desabotoar corpo e salgalhar por aí como pétala ao vento em dia de tempestade. A meio caminho encontro outros, mesma direção sentidos diferentes, eu na ânsia de me livrar do supérfluo, outros na superfluocidade de se livrarem da ânsia, sigo confiante com o que me resta enrolado debaixo do braço e um abraço a tiracolo. Quão longe poderá estar?

(fragmento III de crónica na Bird Magazine, 16/07/2017)

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