Haver
Crónica de domingo na Bird . Volto à folha de papel, de onde nunca deveria ter saído, confesso, para me ver sentir novamente o áspero e sensual deslizar do papel numa folha em branco. Não há barulho, apenas o silêncio se faz ouvir, entrecortado com a minha respiração e a rouquidão do lápis triangular, negro, como a noite que se levanta para me fazer companhia. Ao fim de poucas linhas o pigarrear do grafite traz a comparação com o inequívoco do arrastar dos meus passos numa estrada com dois sentidos, mas sem sentido algum. O desafio da escrita rasga-me o tecido com que cubro o local onde estou, tenho-o, o lençol, amarrado a uns galhos destes arbustos onde penduro a roupa a secar e os grossos troncos dos pinheiros onde vejo a palma das minhas mãos em cada golpe que a corda ali laçada vai escavando. Há um certo pudor que me acompanha e que, também ele, se deixa anestesiar pelo bailado do lápis, a sombra que acompanha cada letra e o salto improvisado quando termino cada palavra escri...