Colheita
Crónica de Domingo na Bird Magazine . Aprofundo a textura da tarde quando, ao passar perto de umas leiras frescas, o nevoeiro que parece emanar da terra na respiração de cada torrão revolto pelo arado me traz à memória lembranças de árvore. Dizem, escuto, que as memórias das árvores as fazem imemoriais, portadoras de um tempo anelado, cunhado a âmbar em choro de resina. ´ O Sol de frente, em frente a uma estrada esburacada, faz-me conduzir de olhos semicerrados. Confundo-me na viagem, por entre eucaliptos, pinheiros e pestanas. Os electrões saem sobressaltados da minha frente quando se apercebem que vejo estrelas nas lentes sujas dos meus óculos. Todo o caminho é estrada e, por ela, chegaremos ao instante seguinte da nossa vida, seja ele qual for. É fácil perder a razão e tornar um entardecer num reflexo negro de um céu nublado, enevoeirado, como as pessoas a quem faltam céus. Das indicações que sigo, algumas indicam caminhos para onde não quero ir e lá, onde quer que os caminhos os ...