O costume
in Bird Magazine.
Entro no barbeiro, invariavelmente tratam-me pelo nome do meu pai.
"Ando a fazer um tratamento, tenho que comer" e sorrio secretamente pela simplicidade com que as pessoas se expressam a quem mal conhecem.
A média de idades deve rondar os 70 anos, ninguém sabe o meu nome, apenas o do meu pai e eu, que em miúdo ficava contente, ainda hoje fico por, simplesmente, me conotarem com ele.
As mãos são o melhor momento, a cada cumprimento há vidas que me saem e anos que me entram, é uma troca de rugas e calosidades como não encontro noutros locais.
Depois vem a conversa de fundo, enquanto a máquina investe aos poucos no (pouco) cabelo, as perguntas provocantes do Sr. João, que me toca no ombro e me pisca o olho pelo espelho, as reacções animadas de quem tem todas as respostas para as perguntas que conheceu, o recordar das mudas de juntas de bois na estação e aqueles que, a 30 km da grande cidade, encetavam mais umas horas de viagem pela estrada, poeirenta, até ao Porto e eu, que por vezes me chateio quando o trânsito me faz demorar mais do que 25 minutos a chegar ao escritório, sorrio ainda mais.
Depois surgem as palavras difíceis, nomes estranhos de terras e pessoa, apelidos, palavras caras e hoje (ontem) ninguém rematou uma conversa com um "vai mas é para o caralho"...
Pára um carro ao lado da porta da barbearia, sai uma senhora, vem buscar o pai, não faço ideia da idade, mas deixou-me uma junta de rugas na mão, com carinho ajuda-o a entrar no carro e, depois, agradece...
Por fim, depois de ter sentido a água fria do pincel no pescoço, a navalha e a escova que me tira os pequenos cabelos que não caíram ao chão, levanto-me enquanto arrumam a ferramenta do ofício como quem aconchega a roupa da cama a um filho.
Pagava 5,00 €, barato, sai um "até amanhã meus senhores" e ouço as respostas enquanto admiro o ligeiro levantar das cadeiras de quem ainda tem educação "à antiga".
Ainda lá ficaram, a conversar, nomes de terras e de pessoas, coisas esquisitas, como quem tem o coração do lado direito, "Oh Dinis,acreditas?", eu sorrio, "saiu daqui um preocupado porque não sabia se tinha o coração do lado direito ou do lado esquerdo", risos, "ah lá cada um!"...
E, por momentos, vou percorrendo o passeio até ao carro, com a mão no peito, sorrio para mim mesmo e penso, o meu coração ficou lá.
Entro no barbeiro, invariavelmente tratam-me pelo nome do meu pai.
"Ando a fazer um tratamento, tenho que comer" e sorrio secretamente pela simplicidade com que as pessoas se expressam a quem mal conhecem.
A média de idades deve rondar os 70 anos, ninguém sabe o meu nome, apenas o do meu pai e eu, que em miúdo ficava contente, ainda hoje fico por, simplesmente, me conotarem com ele.
As mãos são o melhor momento, a cada cumprimento há vidas que me saem e anos que me entram, é uma troca de rugas e calosidades como não encontro noutros locais.
Depois vem a conversa de fundo, enquanto a máquina investe aos poucos no (pouco) cabelo, as perguntas provocantes do Sr. João, que me toca no ombro e me pisca o olho pelo espelho, as reacções animadas de quem tem todas as respostas para as perguntas que conheceu, o recordar das mudas de juntas de bois na estação e aqueles que, a 30 km da grande cidade, encetavam mais umas horas de viagem pela estrada, poeirenta, até ao Porto e eu, que por vezes me chateio quando o trânsito me faz demorar mais do que 25 minutos a chegar ao escritório, sorrio ainda mais.
Depois surgem as palavras difíceis, nomes estranhos de terras e pessoa, apelidos, palavras caras e hoje (ontem) ninguém rematou uma conversa com um "vai mas é para o caralho"...
Pára um carro ao lado da porta da barbearia, sai uma senhora, vem buscar o pai, não faço ideia da idade, mas deixou-me uma junta de rugas na mão, com carinho ajuda-o a entrar no carro e, depois, agradece...
Por fim, depois de ter sentido a água fria do pincel no pescoço, a navalha e a escova que me tira os pequenos cabelos que não caíram ao chão, levanto-me enquanto arrumam a ferramenta do ofício como quem aconchega a roupa da cama a um filho.
Pagava 5,00 €, barato, sai um "até amanhã meus senhores" e ouço as respostas enquanto admiro o ligeiro levantar das cadeiras de quem ainda tem educação "à antiga".
Ainda lá ficaram, a conversar, nomes de terras e de pessoas, coisas esquisitas, como quem tem o coração do lado direito, "Oh Dinis,acreditas?", eu sorrio, "saiu daqui um preocupado porque não sabia se tinha o coração do lado direito ou do lado esquerdo", risos, "ah lá cada um!"...
E, por momentos, vou percorrendo o passeio até ao carro, com a mão no peito, sorrio para mim mesmo e penso, o meu coração ficou lá.
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