Frag(men)tos
in Bird Magazine.
Sobra-me silêncio e a chuva angular.
Aguardo muitas vezes o barulho do movimento à sombra do frio e, enterrando mais as mãos nos bolsos, encosto o queixo ao peito e sorrio.
Cabem ainda tantos, peitos e sorrisos, faltando apenas um pouco mais de eu para que a vida venha espreitar as memórias que formam avenidas pelos significados insignificantes de dias de Verão, pelo calor de outra mão, pelo sol que se põe e antes de adormecer encarecidamente beija o chão. Sim, é pelos olhares que bate ainda um coração.
A fragilidade de uma gota de chuva engrandece a nuvem, escura, que vai percorrendo o céu subestrelado à procura de um raio de sol onde se fragmente a luz em cores e deixe para quem não vê, apenas sente, outros espectros que vão assolando e assomando à superfície dos sentidos.
Talvez um dia chova amor, tão sequiosa a terra.
Em cada passo a sensação de afundar o corpo num naco de terra que me engole pela visão.
Tomara amanhã amanheça quando em mim meu corpo despertar e se lembrar, ainda que difusamente, os universos e multiversos por onde vagueio, vagamente, antes de me tornar pessoa, sem que aquilo a que chamam vida doa.
Vou lesto pela parede que a sombra me proporciona.
Dias de calor são prémios ao desempenho da imaginação, que projecta em mim a quietude de um irrequieto ribeiro, a leveza do peso da terra revolvida sob mim, o céu estrelado que ninguém vê e a Lua esforçada em ser crescente.
Fui lesto demais pelos episódios da vida, sem me aperceber que o comando da mesma são os dedos que me desenham na secretária da escola primária onde um dia sonhei ser o que sou.
É o frio, dizem.
Digo eu que este tempo sabe-me a mãos em torno de tigela de sopa de nabos, fumegante, com os olhos fechados a saborear o calor que liberta, a paisagem ainda verdejante e um rio que serpenteia lá ao fundo, como que fugindo do murmúrio que ele próprio liberta, enquanto tenho o rabo frio de me sentar nesta travessa de comboio abandonada.
Curioso como me serpenteia o Tua, ainda que lá não esteja agora.
As estrelas espreguiçam-se, digo-lhes que a noite não terminará e elas poderão, periclitantes, continuar a iluminar quem delas se alimenta, num misto de admiração e saudades de casa...
Elas não sabem que me iluminam por dentro e talvez o Universo que me habita não saiba que eu existo. Espreguiço-me.
"A noite não terminará por nascer o dia".
Periclitante continuo com o Universo dentro de mim.
Sobra-me silêncio e a chuva angular.
Aguardo muitas vezes o barulho do movimento à sombra do frio e, enterrando mais as mãos nos bolsos, encosto o queixo ao peito e sorrio.
Cabem ainda tantos, peitos e sorrisos, faltando apenas um pouco mais de eu para que a vida venha espreitar as memórias que formam avenidas pelos significados insignificantes de dias de Verão, pelo calor de outra mão, pelo sol que se põe e antes de adormecer encarecidamente beija o chão. Sim, é pelos olhares que bate ainda um coração.
A fragilidade de uma gota de chuva engrandece a nuvem, escura, que vai percorrendo o céu subestrelado à procura de um raio de sol onde se fragmente a luz em cores e deixe para quem não vê, apenas sente, outros espectros que vão assolando e assomando à superfície dos sentidos.
Talvez um dia chova amor, tão sequiosa a terra.
Em cada passo a sensação de afundar o corpo num naco de terra que me engole pela visão.
Tomara amanhã amanheça quando em mim meu corpo despertar e se lembrar, ainda que difusamente, os universos e multiversos por onde vagueio, vagamente, antes de me tornar pessoa, sem que aquilo a que chamam vida doa.
Vou lesto pela parede que a sombra me proporciona.
Dias de calor são prémios ao desempenho da imaginação, que projecta em mim a quietude de um irrequieto ribeiro, a leveza do peso da terra revolvida sob mim, o céu estrelado que ninguém vê e a Lua esforçada em ser crescente.
Fui lesto demais pelos episódios da vida, sem me aperceber que o comando da mesma são os dedos que me desenham na secretária da escola primária onde um dia sonhei ser o que sou.
É o frio, dizem.
Digo eu que este tempo sabe-me a mãos em torno de tigela de sopa de nabos, fumegante, com os olhos fechados a saborear o calor que liberta, a paisagem ainda verdejante e um rio que serpenteia lá ao fundo, como que fugindo do murmúrio que ele próprio liberta, enquanto tenho o rabo frio de me sentar nesta travessa de comboio abandonada.
Curioso como me serpenteia o Tua, ainda que lá não esteja agora.
As estrelas espreguiçam-se, digo-lhes que a noite não terminará e elas poderão, periclitantes, continuar a iluminar quem delas se alimenta, num misto de admiração e saudades de casa...
Elas não sabem que me iluminam por dentro e talvez o Universo que me habita não saiba que eu existo. Espreguiço-me.
"A noite não terminará por nascer o dia".
Periclitante continuo com o Universo dentro de mim.
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