Natividade
in Bird Magazine.
Começo a não caber dentro de mim.
A quantidade de vida que me mergulha nos olhos, a cada instante, faz-me sentir inundado por coisas, locais e seres que ainda não conheci, levando-me a correr por aí sem sair daqui, a provar sabores que, desconfio, provarei apenas sem este casulo.
De real o Sol, o Ar, o espaço onde volito, a cara nua de quem se sabe ninguém, as linhas escancaradas às portas das palavras que choveram.
um mundo, além do meu, do teu, onde o Sol é da cor da chuva e a neve cai de cada vez que sorris, um local feito de abraços e de silêncios, porque ninguém ousa falar palavras que não conhece, nem ninguém conhece o real, do Sol, do Ar, do espaço onde volito.
Há um pouco do que sou perdido pelos muitos lugares onde não estive. Locais que guardam os olhares que ainda não li. Há uma falta imensa de mundo nas pessoas, que as faz correr sem se saberem em casa. Uma indiferença que não lhes permite ouvir a chuva que cai, em qualquer local, e sentirem frio sem saberem porquê.
Cobre-me um manto branco que poderia ser neve, mas é apenas o véu liso, que cheira a arruda, com que me tapo quando sei que sonho.
Vou tacteando as pessoas, a medo, como quem reconhece um caminho pelas rugas e tufos de musgo nos muros que fazem o nosso caminho.
Há caminhos que desaguam em paredes de madeira, em caras aquecidas pelo braseiro, nas mãos que seguram uma fumegante caneca de café e de amizade.
A distância que nos eleva à saudade é a que dista dos olhos ao que não vemos, no entanto, de olhos fechados, tocamos e sentimos aqueles que amamos, pois percebemos que tudo o que somos, somos porque eles são em nós, de formas explicáveis apenas com o sorriso aberto quando os fechamos, os olhos, e sentimos a brisa deles a passar por nós. Ninguém é de ninguém. Ninguém se separa, somos todos Um.
Até o tempo conspira ao correr à minha volta, sem me deixar prender as mãos e escrever-lhe nos ombros o peso que me carrega...
É o desassossego que me faz ver ao longe os carros que se aproximam, enrolando seus vassalos o fio de ariadne que os guia ao local de onde se pariram, as aldeias velhas, os muros desassossegados, as geadas e as neves, os testos que tilintam ao som do vapor das panelas, a lareira, os risos, a felicidade de onde nunca deveríamos ter saído.
É Natal.
Todos os dias.
Vou dormir, agora, de uma ponta à outra de mim, sabendo que no momento que fechar os olhos terei já este eu que me habita ao longo das estrelas, saltando de mundos em mundos, com a liberdade que procuro nas mãos, nas palavras que polvilho, nas entrelinhas que me conduzem a todos os abraços que dei ao universo.
Sou este eu que me habita.
Completo.
Começo a não caber dentro de mim.
A quantidade de vida que me mergulha nos olhos, a cada instante, faz-me sentir inundado por coisas, locais e seres que ainda não conheci, levando-me a correr por aí sem sair daqui, a provar sabores que, desconfio, provarei apenas sem este casulo.
De real o Sol, o Ar, o espaço onde volito, a cara nua de quem se sabe ninguém, as linhas escancaradas às portas das palavras que choveram.
um mundo, além do meu, do teu, onde o Sol é da cor da chuva e a neve cai de cada vez que sorris, um local feito de abraços e de silêncios, porque ninguém ousa falar palavras que não conhece, nem ninguém conhece o real, do Sol, do Ar, do espaço onde volito.
Há um pouco do que sou perdido pelos muitos lugares onde não estive. Locais que guardam os olhares que ainda não li. Há uma falta imensa de mundo nas pessoas, que as faz correr sem se saberem em casa. Uma indiferença que não lhes permite ouvir a chuva que cai, em qualquer local, e sentirem frio sem saberem porquê.
Cobre-me um manto branco que poderia ser neve, mas é apenas o véu liso, que cheira a arruda, com que me tapo quando sei que sonho.
Vou tacteando as pessoas, a medo, como quem reconhece um caminho pelas rugas e tufos de musgo nos muros que fazem o nosso caminho.
Há caminhos que desaguam em paredes de madeira, em caras aquecidas pelo braseiro, nas mãos que seguram uma fumegante caneca de café e de amizade.
A distância que nos eleva à saudade é a que dista dos olhos ao que não vemos, no entanto, de olhos fechados, tocamos e sentimos aqueles que amamos, pois percebemos que tudo o que somos, somos porque eles são em nós, de formas explicáveis apenas com o sorriso aberto quando os fechamos, os olhos, e sentimos a brisa deles a passar por nós. Ninguém é de ninguém. Ninguém se separa, somos todos Um.
Até o tempo conspira ao correr à minha volta, sem me deixar prender as mãos e escrever-lhe nos ombros o peso que me carrega...
É o desassossego que me faz ver ao longe os carros que se aproximam, enrolando seus vassalos o fio de ariadne que os guia ao local de onde se pariram, as aldeias velhas, os muros desassossegados, as geadas e as neves, os testos que tilintam ao som do vapor das panelas, a lareira, os risos, a felicidade de onde nunca deveríamos ter saído.
É Natal.
Todos os dias.
Vou dormir, agora, de uma ponta à outra de mim, sabendo que no momento que fechar os olhos terei já este eu que me habita ao longo das estrelas, saltando de mundos em mundos, com a liberdade que procuro nas mãos, nas palavras que polvilho, nas entrelinhas que me conduzem a todos os abraços que dei ao universo.
Sou este eu que me habita.
Completo.
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