Ventos Contrários

Crónica de domingo na Bird Magazine.

Gosto de afagar o destino.
De lhe dizer, no final de cada dia, que o amanhã será o que ele tiver sonhado, apenas e só, para na recursividade do sentir, ele se soltar desta matriz, complexa, e ser o que é, destino.
As tardes vão-se julgando por quanto de sonoridade convexa se expande da televisão ou do computador.
Não sejas, materializa-te nas etiquetas do que vês, no rating das tuas (boas?) acções, rasteja sob o jugo do que te impõe quem te manieta, para poderes dar um passo da cadeia à janela gradificada que é a tua liberdade.
Enquanto não fores de vento, toda a tempestade te atirará contra o contrário.
Amanhã, pelos raiares do dia, ainda que nublado, serás marioneta dos teus sentidos, sem te despedires do teu mais alto ser, percorrerás as estradas e dirás, orgulhoso, antes de trabalhar, que vais à luta.
Mas a luta é o teu maior antídoto à dopagem de quem se acerca de ti com o dicionário, em riste, de folhas brancas, com apenas um significado escrito para o teu desejo de ser mais: implica consequentemente severas sanções já que significa frequentemente um risco para a segurança dos outros ou dos interesses colectivos.
A felicidade caber-te-ia na palma da mão, se soubesses que a tua liberdade, ao invés das tuas aplicações a prazo, são do tamanho da segurança de quem te deu a vida.
Dou por mim a lembrar-me de Mateus, em temos de outras pérolas, outros porcos, ou do que escreveram em nome dele: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? ... Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo...
O acréscimo é a consequência terrena de abrir os olhos e sentir, para respirar basta inspirar, quando o soubermos fazer pelo olhos, será o dia em que diremos adeus ao corpo.
Felizmente a maior poesia não pode ser escrita, ou lida, por nós.
Apenas pelas árvores.
E essas sim, nunca mentem ou obscurecem outros, apenas por serem de outra ramagem.

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