Deixei que a chuva caísse em quantidade suficiente para me levar os rastos que deixei até chegar aqui. Agora, para trás, num passado que não existe, já não existo. Nada existe. Acumulo em mim tudo aquilo que penso ter havido, no corpo, na mente, na alma. Amanhã, que ainda não há, nem sequer o segundo seguinte, terei um pouco mais de mim, de ti, de quem me vê pregar em silêncio longos sermões ao vento que passa, só para me sentir, novamente. Ontem não existe, não existiu. Hei.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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