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A mostrar mensagens de fevereiro, 2012
Sou do chão da pedra do terreno que acaricio com a mão, do céu e do espaço dos dias que comigo passo das estrelas do universo do que não existe e é meu. Vestidos de cobre metal ornamentados eu sou aquele que se ostenta de pobre, anseio as tardes do amanhã e despido me chamem nu para que desperte eu e me saiba rico.
Eram três da manhã e o mundo parou. O chã ficou na chávena, daqui a uns dias nascerão flores de camomila. Acordados, todos se levantaram das camas, cadeirões, sofás. Todas as portas se abriram. Todos caminharam. Todos escutaram.
Tens na página o fim o ocaso das letras urdidas, em ti, papel, meu jardim dos meus dias com todas as minhas vidas. Fecho-te ao abandono ao tempo que te irá ler e reler, ao pó cadente na tua lombada o meu dedo um sonho sem abrigo descalço comigo sem mais nada.
Invejo os Artesãos, que têm na ponta dos dedos a extremidade da alma.
Ouço as pessoas falarem do tempo, do mau tempo, do bom tempo, de como isto está diferente, como era antes, como deveria ser. Enoja-me este lamuriar (não de quem na verdade é afectado) por algo que não se controla, nomeadamente o tempo, o clima, algo que na nossa demanda neste planeta temos vindo a destruir. No meio deste planeta, é difícil não nos sentirmos vírus.
Gastei já todos os sonhos que me venderam, olhei os dias e as noites guardei ancinhos e foices, soltei o Sol e lacei a Lua até as sombras que saem à rua, porque são minhas as lareiras de todos os mundos os que me perderam, vão à bolina as canções atadas a velhos ferrugentos batelões, mar calmo e raso é chão nuvem negra aluvião, que se perdem as ondas espumadas quando ao luar se atiram à areia que foi um dia meu pão.
Sem contar, porque não se mede, ligo para as pessoas com quem partilho a vida há anos e digo-lhes que gosto delas, que as amo, deixo-lhes um pouco de carinho neste dia frio.  E sei que sou ingénuo, sonhador, utópico, tímido, mas deixar de o ser é deixar de ser quem sou.  E quem hei-de eu ser sem ser eu mesmo?  A distância que nos separa dos outros e de quem realmente somos é medida pela ignorância infantil que temos de não sabermos ser aquilo que nascemos, despidos, ansiosos por um abraço.  Não te liguei, não atenderias, mas também sabes que te amo, às cores.
Porque é noite e esta, quando nasce, é para todos, até para mim, que a adormeço lentamente, cansada de andar a rodopiar sobre ela, inquieta, enquanto o dia não se põe do lado de lá da vida.
Como viveria eu, assim desamparado, sem saber de que letra caí?
O corpo em que me oculto vagueia pela noite, de viagem em viagem, como se de vento respirasse por cada brisa ligeira que o tempo atira pela janela.  Um dia será dia e eu viajarei eternamente parado, para me ver a olhar para mim, a respirar.
Um dia, terei nos dedos musgo e orvalho, não teclas. Um dia, terei nos olhos horizonte, não pixels. Um dia, sentado numa encosta, traçarei pão velho com as mãos, sorrindo apenas por ver o Sol nascer.
Cobrindo os dias com o vazio despoletado pelo ter galgam-se os sorrisos e prostitui-se a liberdade. Somos o vão e o vil daqueles que se ardilam comprando o céu de olhos no chão.