Pouco resta da noite que o sono das flores que se fecham ao dia para beberem das memórias do que viram. Os suspiros que me chegam são as vozes que calei ao não escrever, também, o que me susteram. Uma rima vale pela vida. E eu trocava todas as minhas por uma noite ao relento, assobiada pela lareira a amortalhar, a adormecer sobre o meu caderno, vazio.
Mensagens
A mostrar mensagens de maio, 2012
- Obter link
- X
- Outras aplicações
Vesti os dias como quem se almoça de sorrisos, abracei os orvalhos sem me molhar, apenas para sentir a seiva de um mundo e as lágrimas de nuvens que resvalam por montanhas. O mundo foi feito, um dia, de amizades sinceras e desprovidas de interesses, de alegrias em tons de pôr-do-sol. O mundo foi já um cercado de erva e flores, carvalhos e cores, onde se abraçam sonhos e se pulam anos e anos até uma nova vida, feita de tábuas e pregos enferrujados, de toldos de plástico e ramagens de giestas ou mimosas, de vira-ventos em cascas de eucaliptos. Houve tempo, ouve, para viver apenas por viver, sucumbir ao doce sabor de uma lareira. Hoje, hoje somos bons demais, honestos demais, humanos demais. O mundo foi simples, um dia, antes de nascer.
- Obter link
- X
- Outras aplicações
Sonhei, agora, que as palavras escondidas tinham a força de mil olhares e o céu, cansado do azul, desceu à terra em tons de laranja, longe das fronteiras e da liberdade, sorrindo pelos lábios de um jardineiro que, aproveitando o primeiro dia de sol depois de um outro dia, sorvia às golfadas água, que escorria pela face e, ao cair, olhava como criança para as calças e botas caldoverdeadas da relva recém ceifada.