Sonhei, agora, que as palavras escondidas tinham a força de mil olhares e o céu, cansado do azul, desceu à terra em tons de laranja, longe das fronteiras e da liberdade, sorrindo pelos lábios de um jardineiro que, aproveitando o primeiro dia de sol depois de um outro dia, sorvia às golfadas água, que escorria pela face e, ao cair, olhava como criança para as calças e botas caldoverdeadas da relva recém ceifada.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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