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A mostrar mensagens de março, 2006

Dourado

As pedras polidas, a face nova da chuva esbate um arco-íris esmaecido pelo gotejar das vidas, não há rua que não possua um sorriso florido. Cada corpo em amor convertido tem um silêncio, reverencia o esforço do momento, quer do olhar ou sentir, do pleno gesto que se transforma em presente, de mão quente que estende amizade saem mais que palavras, sulcam velhos caminhos jamais trilhados, desembarcam em tons dourados ou letras como o Sol sobre a ilusão. É destes momentos que se alimenta o meu coração.

Sonhos e amigos

Fui visitado esta noite por amigos... São amigos que não vejo há muito tempo, desde os tempos de liceu... Apareceram em sonhos, muito lúcidos, e a surpresa de os encontrar foi tanta que quase acordei. Falamos sobre coisas triviais deste mundo, porque é assim que vemos este mundo, do lado de lá, uma coisa passageira, uma etapa, que busca ligar-se ao mundo dos sonhos... Fico a pensar na importância que (não) prestamos aos amigos, aos laços que se criam e desfazem, acompanhados pela expressão: "é normal, tudo muda"... Sim, tudo muda (este espaço é para os mais eruditos citarem Camões e seus foliões lusitanos), mas por rotação normal da terra ou porque somos demasiado pequenos para caber mais alguém no nosso coração? Talvez seja da música que estou a ouvir (Donkeytown - Mark Knopfler & Emmylou Harris), que me torna um pouco nostálgico, no sentido positivo... É como a saudade positiva, sem emoção, apenas a saudade de amigos, que amamos plenamente e desejamos que estejam

Ocaso

O vento levou já o eco dos meus passos no sonho. A chuva já não cai ao compasso do respirar, tudo o que foi já o era, não porque o riso assim o quisesse, apenas as sombras o sabem. Não estava para ninguém, no entanto, quando o medo assolou à porta da saudade a noite surgiu em auxílio do Sol, que antes ainda de ser dia constava, no mundo ausente, que morria...

Carinho

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Por vezes somos brindados com a presença de amigos invisíveis, presenças que apenas nós sentimos... Em momento algum me sinto sozinho, desamparado, nos raros maus momentos e nas fantásticas ocasiões em que a vida entra-me nos sentidos... Por isso, para vocês, o meu carinho... O meu reconhecimento pela paciência e amor, sempre demonstrado...

Alguns pensamentos

De vez em quando, da miríade de emails que recebo, um ou outro possuem frases (feitas) úteis, curiosas ou, pelo contrário, sem qualquer referência em termos do que pode ou não ser útil a mim ou a quem lê este blog (mas alguém lê este blog?)... Aqui ficam: "Para mudar, preciso compreender que render-me não é desistir, nem fracassar. É não precisar mais de estar certo." "Hoje lembrar-me-ei: Um estado permanente de transição é a condição mais nobre do homem." "Semeia um pensamento, colhe um acto; semeia um acto, colhe um hábito; semeia um hábito, colhe um carácter; semeia um carácter, colhe um destino." - Marion Lawense "Não importa o que fizeram de você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram de você." - Sartre

Sintomas da Paz Interior

Desconheço o autor das seguintes linhas, mas parecem-me serem justo alvo de reflexão (até parecia um filósofo)... - Tendência a pensar e agir espontaneamente ao invés de basear-se no medo e nas experiências do passado; - Uma habilidade imensa de valorizar e aproveitar cada momento; - Perda pelo interesse de julgar pessoas; - Perda pelo interesse de interpretar a acção alheia; - Perda pelo interesse de participar em conflitos; - Perda da habilidade de se preocupar; - Frequentemente dominado por episódios de imensa apreciação; - Sentimentos de satisfação pela conexão com os outros e com a natureza; - Frequentes ataques de sorrisos; - Uma incrível tendência a deixar as coisas acontecerem ao invés de forçá-las a acontecer; - Uma incrível susceptibilidade ao amor recebido de outros, tanto quanto à incontrolável necessidade de estendê-lo ao próximo.

As baleias

Não costumo ouvir Roberto Carlos, à excepção de quando a minha mãe coloca os CD's dela... No domingo retribui um gesto... A vida proporciona-nos sempre aquilo que temos que viver e sentir, mas também nos retribui... Há 15 anos chorei... Queria ver os Dire Straits em Alvalade, mas vi-me sem companhia, todos os amigos que tinham dito que iam, não foram e eu, rapazinho da aldeia, não fui sozinho... Chorei... E lembro-me da minha mãe dizer: "Deixa lá, vais ver que eles vêm cá outra vez"... E eu chorei outra vez, porque eles tinham acabado e nunca mais poderia assistir a um concerto (na verdade, seria o primeiro). E então, no ano da graça de 1996, um senhor chamado Mark Knopfler, mentor, líder, guitarrista, vocalista e compositor dos Dire Straits visita Portugal... Esqueci a quantidade de vezes que corri para a Tubitek (saudades) para comprar o bilhete... E lá consegui, 2 bilhetes, para a 2ª fila, para mim e para a minha irmã (que teve uma prenda de anos que não estava à es

Esta vontade

Estas tardes dão vontade de andar pelo monte, por entre as árvores, tremer quando uma gota grossa nos cai mesmo no pescoço. Dão vontade de... De ter por companhia um qualquer programa de rádio, com música tradicional. Pegar em terra e senti-la húmida... Ficar parado, apenas para não afugentar um melro... Deitar num muro por acabar, sacudir as pedras que magoam a cabeça, deixar pender uma perna para não perder o equilíbrio e com a palma da mão tapar o sol, apenas para ver o céu, e todas estes pontos luminosos que bailam... Abrigar numa velha paragem de autocarro, à espera que pare a chuva... Parar com medo de um cão e respirar de alívio, quando ele abana o rabo e nos vem lamber a mão. Sorrir quando se toca com a mão fria numa parede quente. Abrir os braços e deixar que a chuva nos molhe, completamente e depois, encharcado, tomar banho e adormecer meio corpo a ver uma lareira. Sentar com amigos, sem falar. Sorrir apenas porque se está vivo. Sorrir apenas porque se sabe que n

Para quê um título?

Perdi a conta aos minutos... Tinha-os aqui, na palma da mão, mas deixei-os fugir... Entre o deitar e dormir (e acordar dormindo e voar) ou ficar aqui, a olhar ainda os minutos, creio que vou... Num dia só vivem-se e sentem-se milhares de coisas... Coisas assim, como os minutos... A chuva ainda vai trazendo alguma serenidade... Fico feliz com as vitórias dos outros, com o brilho no olhar da humildade... Fico com sono... As sombras da chuva recordam-me tempos de criança, de agasalho, de cevada com boroa, de cebola e sal, de gentes que partiram e só encontro no sonho... Retribuir algo que nos foi dado não tem preço... Ver o olhar humedecido pela emoção... Ver as rugas nascerem de quem nos fez novos... Eu sou feliz... Gostava de escrever o que sinto... Que não em verso ou prosa... Escrever no ar, nas pessoas, no vento... Escrever que sou feliz (com tão pouco... com tão pouco)... Também deveria escrever que adoro os meus ex-alunos... Que aprendi tanto com eles... Isso e ta

Formas de olhar

Há formas de olhar que moldam os sonhos, sorriem como se a tela em que me pinto fosse um pequeno globo luminoso incandescente, será algo que sinto? Há formas de olhar que sorriem o dia, moldam a vida ténue e sobranceira com argila límpida, clara, tingida pela noite que partiu e o sorriso que o sonho pariu... Há formas de olhar que apenas eu vejo, sorriso e sonhos e amor... Amor que deambula pacientemente aguardando a compaixão dos que dela ainda não bebem... Há formas de olhar, mas não escrevem...