Fria noite no corpo
Dorme a fria noite, ao longe trémulas estrelas resistem a este meu açoite, ao orvalho que brota da alma num soluço de ninguém. Ao tacto é gélida a pele e os dedos refugiam-se, o tempo que seria exacto é, afinal, dele o vulto do Sol que dorme em mim. Amparo pétaldas de rosas e flores mortas, hirtas e sombrias de sangue manchadas e isentas de dores, absortas. O jardim que plantei é um canteiro de almas, jazentes e dormentes, fugazes e ardentes, espinhos que se cravam na mão perfurando o sonho, aniquilando a ilusão. Quando o trevo me cobrir e eu não for mais que húmus, deixa que me regue o orvalho que cair dos espinhos da vida que se segue... Se eu nascer de novo e o veneno brotar, ainda, desta alma que não finda, foge para longe e cobre-me com terra negra, antes que meus olhos possam matar e minhas mãos, sujas e gastas, possam tocar o triste mundo que são teus olhos a chorar...