MOSTO
Crónica de domingo na Bird Magazine . A candeia não vai à frente, alumia apenas uma vez e isso basta, o suor cai por vezes nas bagas órfãs e estas rebolam-se como que felizes. O odor ainda não acidou, a mistura de cimento barrento e terra faz as vezes de chão, os pés são nutriente de uma noite que vai cair tarda nada e os garrafões de vidro e vime emparedam as laterais de uma quase cave, conquistada ao ventre do solo, sob o soalho de pinho repousado em vigas grossas de carvalho talhadas de goiva e ostentando a finura de uma veia cava saliente. De cima pendem as teias de aranha, o barulho de passos da mãe, falecida, ecoam na memória, mas mesmo assim, ainda que quase perdidos no esquecimento de quem de filho se fez homem e de homem se fez pai, dão qualidade à degustação de um vinho, zurrapa, como se pela espuma vermelha, rosa, se pudessem limpar os lábios de um beijo saudoso. Dizem que não dá para o lucro. Nem para o prejuízo. Mas, pelo men...