Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2014
Do calor faço imaginação, pelas curvas o destino, a paisagem sobe-me à mao, a palavra instrumento que desafino. Pudesse o Sol subir tão alto e prolongar a sombra do futuro na fachada da minha morada, mas a minha morada é pousio que habito sem dormir, as paredes do meu quarto são as luas reunidas quando por entre serenamente movimentadas plantas te vejo sorrir. Segue o traço da minha mão, chama-lhe linha da vida, por ela um ribeiro secou quando Dezembro terminou sem nunca ter Primaverado. Vou dormir, agora, sem nunca ter acordado.
O horizonte ondula, estremece, pelo calor que o ar carrega. Quase dá vontade de ser lado de lá da sombra, se não fosse lá o sítio onde moram as temperaturas de amanhã. O caminho inclinado faz-se de cor, de cores, com mais despojos e menos flores, naturais e humanas. Já não há quem regue corações pela manhã. Pé ante pé entre passadas descompassadas, a calçada lamuriando-se, um animal abandonando-se, um homem acobardando-se e um dia, ainda fresco, espreguiçando-se até tocar com as pontas dos dedos para lá do azul celeste. Se leste saberás, ainda que por cima do ombro te sombreies com o resquício do planeado para amanhã, o futuro é coisa que hoje ainda não há. Agora que o agitar das horas levanta vento e traz uma brisa por entre os buracos dos estores, não te esqueças de mim quando noite adentro, sem medo, fores...
Vejo-te à minha espera à cabeceira da cama, esse sorriso terno, como quem olha para uma criança (como a criança que sou), a brincar e entreter-se com algo banal, como agora, a tentar agrupar várias de 26 letras em palavras diferentes, com o mesmo significado, tão global que até as letras não utilizadas encontram forma de se unirem e escreverem a invisibilidade que me guia. Eu, perdido entre minutos, encontro-me na fase crepuscular do corpo, quando o deixo aqui, deitado, e sigo viagem, por horas ou anos, noite adentro, dimensões fora, até me ver a mim mesmo vulto transparente e amálgama de compostos orgânicos que formam o corpo físico. Voltarei a sentar-me na beira da cama, dás-me um abraço, deitas-me sobre meu corpo, beijas-me a testa enquanto quatro pequenas mãos se agarram ao meu braço e ouço seus risos. Depois, sussurras: está na hora de acordar. O despertador toca. Acorda-me. Mas despertado estava já eu antes.
Dorme baixinho, entra no sono sem que ele se aperceba, encontrarás à tua espera um longo caminho que te levará ao teu verdadeiro útero. Vou voltar por entre pétalas, em poesia que floriu sem que de mim nascessem flores ou mãos. Emudecido caminho até ao acordar, triste por saber que mesmo não glorificando a dor, há algures aqui um verso a doer.
Ainda que a queda da chuva sobre a areia solte notas de cheiro a seco molhado, deitado consigo ouvir os grãos de areia murmurarem. Entre cada um deles separa-os um vazio completo de nada, nada que os possa impedir de aspirarem serem um só.