Vejo-te à minha espera à cabeceira da cama, esse sorriso terno, como quem olha para uma criança (como a criança que sou), a brincar e entreter-se com algo banal, como agora, a tentar agrupar várias de 26 letras em palavras diferentes, com o mesmo significado, tão global que até as letras não utilizadas encontram forma de se unirem e escreverem a invisibilidade que me guia.
Eu, perdido entre minutos, encontro-me na fase crepuscular do corpo, quando o deixo aqui, deitado, e sigo viagem, por horas ou anos, noite adentro, dimensões fora, até me ver a mim mesmo vulto transparente e amálgama de compostos orgânicos que formam o corpo físico.
Voltarei a sentar-me na beira da cama, dás-me um abraço, deitas-me sobre meu corpo, beijas-me a testa enquanto quatro pequenas mãos se agarram ao meu braço e ouço seus risos. Depois, sussurras: está na hora de acordar.
O despertador toca.
Acorda-me.
Mas despertado estava já eu antes.

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