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A mostrar mensagens de outubro, 2013
Resta-me pouco mais que o silêncio e o calor do corpo. Tenho as palavras a latejar no chão, dispersas, sem saber como as agregar e elas, abandonadas, sem se saberem soletrar.  Nada mais que atropelos, dedadas fugidias no vidro do autocarro, corpos habitados por gente demente, que esbracejam e falam, vociferam, com fantasmas que, acredito, nem elas consigam ver.  Cansa-me o cansaço, correr sem sequer levantar os pés, aprisionados pela calçada que, até ela, foge debaixo de quem se quer ser chão. Mas esse, chão, solo, litosfera, chamem-lhe o que quiserem, é-o apenas para lá, lá, longe, atrás da última colina, escondida sob um nevoeiro cerrado, onde não estou.  Que nuvem torpe desce sobre nós?  Há apenas uma criança, a cantarolar na paragem do autocarro, uma letra que desconheço, creio que apenas ela a conhece, nunca ouvi ou houve alguém a agregar sílabas daquela forma.  Faz-se tarde, para dormir, descansar, para viver.  Sinto por vezes que tropece...
Não fosse pelo vento, seguro à vida que se atropela à minha frente, teria eu, há muito, volitado pelo espaço sem destino, mas quer o tempo, que não eu, permanecer sentado neste jardim que imagino, plantado de cascalho com óleo onde o silvo destes vultos oscila entre o tumulto e a pacatez, de espantalho usado vestes à discrição o trapo que vai e vem, como o fumo do cigarro, não fosse pelo ar gelado que se faz vento, outra vez.
Acredito que daí, enquanto esburacas o céu nocturno com um dedo e, assim, rasgas e alargas o pequeno buraquito por onde passa a luz do paraíso (ou o que incautos chamam de estrelas), olhes com olhar de criança e vejas a complexidade de pessoas que correm agora mais do que a rotatividade deste astro sem luz, preso a uma órbita em torno de um astro que, irado, queima, como nós, o combustível dos seus dias. Não faz sentido, pois não? Corremos tanto atrás do tempo que ele, ultrajado sentindo-se, se acelera em sentido negativo até percorrer de forma implacável os dias conquistados e outras moratórias que poderíamos colher e nos trazer, não em bandeja, não o merecemos, mas repentinamente o final do dia, despojado, preso ao segundo seguinte, segundo eu, que de tempo conheço apenas uma letra acima de xyz.
Não chove, o mesmo não implica que não caia algo do céu. Estranho ninguém ouvir este ribombar de luz que ofusca e me deixa encharcado de saudade por um longo e fino curso de água, por entre nuvens e névoas, por entre o espaço vazio que ladeia os corpos de quem não se sustenta pela vida. Curioso como os dias se sucedem um após o outro e, no entanto, sinto-o como o mesmo, adormecer e acordar na manhã do mesmo dia, onde apenas a louca vontade do destino, sempre esse desgarrado filho de ninguém, faz mover números do relógio e do calendário, pinta e traça cabelos brancos e rugas negras de quem pensa viver os dias que não passam nem existem. Gostava de saber quem chama à minha porta, sem saber que por detrás dela existe uma outra porta, virada para a rua. E eu, vou sendo fotografia sem legenda, amassado pelo tempo e condimentado pelos dias, até um dia me transformar em pão e assim ascender, em formato de aroma, que é como quem diz ser odor que não se cheira, ser margem sem leito, ser caminh...