Crónica na Bird Magazine . Fixo as lâmpadas do tecto. A semelhança com os filmes é assustadora e real. Há um cheiro a frio no ar, faço uma piada comigo mesmo ao dar por mim a, como sempre, contar de três em três tudo o que vejo, desta vez são os buracos frios da placa de metal onde estão afixados candeeiros e uma parafernália de led’s. Adormecem-me. Acordo, falam comigo e ouço tudo muito alto, quero falar e perguntar, mas nada sai da boca. Fixo as mesmas lâmpadas do tecto. A semelhança com os filmes continua a ser assustadora e real. As vozes novamente, as faces surgem de repente, primeiro são um borrão indistinto de cores que não identifico e, lentamente, aglomeram-se até passarem de vultos a faces, conhecidas felizmente. Agora sim, acordo, é noite, estou confuso. O tempo demora a passar, vejo-o chegar até mim, pendura-se nas grades da cama, fita-me, pisca-me o olho, mas eu, entre dores e assustado, viro a cara rabugento e fito o céu cinzento carregadinho de ameaças chuvosas e ele, te...
Comentários
e se fores?
há tempos que é preciso parar, ouvir e depois avançar.
lindo poema
beijinhos
Vale um poema:
A FLOR, AS FLORES
Face em ângulos e triângulos,
ocultas, não cansa de mostrar-se,
encantada em curvas de espírito e luz.
Por que, enfim, nasceu pétalas,
entrâncias e reentrâncias,
lagos, luas, protuberâncias,
se o futuro está distante?
Sóis iluminam suas formas:
pistilos, talos e raízes.
Cada raio de sol dá força
tão estranha e incomum!
Dia avante, passo-mágico,
mais estrelas para a noite
vertical. Vem plácido o dia.
Cabelos d’ouro ou de carmim,
do preto até um branco sem fim.
Perfume abelhudo, vôo-borboleta,
tudo esplende entre você e mim.
Uma cicia a outra, conversando:
- Você já sentiu alguma dor?
- Jamais! Nem quando nasci.
Ai, dores dos mortais de carne e osso,
areia e pedra e vento e ar! Nada podemos
do presente, só olhar. O futuro está em nós.
Chico Miguel