O comboio e o olhar permaneciam ligados pelo vento. Nada une mais dois objectos que o vento. O olhar aproxima, constrói, convida e toca. O comboio leva o olhar, no olhar e ao olhar de outras paragens, transporta consigo o olhar sem ter olhar próprio. Mas o vento, o vento é o único que consegue fazer o olhar transportar o comboio, sem carris, sem rede, apenas com um olhar fugidio cujas agulhas o carril nunca tricotou. Se ao menos o vapor...
Pessach
“Pessach” Crónica do Nada , no Correio do Porto . O puto abana-se uno com a sineta que trina, o braço cansado pende como um ramo seco de árvore que sonha ser galho, anunciando vem aí o compasso!, a opa alva dança e as nuvens riem-se quando o vento lhe atira o resto da brancura pelas costas acima, embrulhando-se na cabeça. Não se demove, continua a badalar num esforço contínuo apenas vencido pela zelosa missão de, além de adolescente, ver chegar ao fim a madrugada procissão, solitária, a cruz acima e abaixo de caminhos, os verdes ao chão, as flores na mão, de cara fechada, uma madeixa dourada rivaliza com o sino zonzo já de tanta sacudidela firme. O vento desiste soturnamente, as nuvens deixam de joeirar a cena e dispersam num certo tom de desprezo, a opa solta-se e cai harmoniosamente sobre as costas arqueadas, mas não sucumbidas, tudo sem que o sino deixasse de tocar. A solenidade foi-se perdendo, sobra agora uma espécie de desejo que tudo termine e possa seguir viagem, arrancar um...
Comentários
Li o teu texto em voz alta!
:))
Um abraço.
saudações amigas
FERNANDINHA
Um abraço.
...texto muito bonito!
prosa poética encantadora!
...gostei imenso da expressão
"...cujas agulhas o carril nunca tricotou."
parabéns
xis létinha
Como tu muito bem disseste, tem qualquer coisa de especial...
Bj
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