(fotografia de Norberto Valério ) Sobranceira ao meu olhar, aninho-te no regaço da saudade que o Sol dissipa, enquanto voltam a teu ventre cadilhos e a teus braços, gastos, filhos. Perdidos passos percorrem poeira, restos de memórias vivas morrem lentamente à sombra do esquecimento que um falso Sol peneira, afasta-se o rumo, a vida, os cheiros e a tez, porque já não curte o frio os frutos e as mãos de petiz, que homem se fez. Dás-me corpo ondulado, seiva e calor de teu regaço longínquo e molhado, namora-te o estio a ausência e o pousio, o vazio que te percorre arde sem chama, vivos frios olhares e labutas guardam jardins de sonhos idos que se encontram com a calma. Em ti, a paz que desejo minha, a tépida esperança acesa tem gotas de rio que te beija, que não te sabendo rainha ingenuamente murmura: princesa...
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A mostrar mensagens de agosto, 2008
Inocência: o final dos frutos
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(fotografia de Norberto Valério ) Despida do mundo, trajo apenas searas e foices alheias, em bailados de sons dourados com filigranas de colcheias. Rendo-me ao vento que silvou na despedida, nua, entre o céu que me perfilhou galgou-me a terra em semente, sem Sol, sem Lua. Padece do tempo meu destino final dos frutos, porque a fragilidade das raízes não brota desta tumefacta pele crua, mas da gadanha cega e rombuda que dança em mão inocente, quão inocente é a culpa tua...
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Agosto começa com o início de Setembro, para mim basta. Tenho os olhos abertos porque o Sol é filtrado pelas muitas nuvens no céu, mas, de facto, para que preciso de olhar? Este tempo faz-me fechar os olhos, sentir o vento frio de Setembro, ainda que em início de Agosto, cruzar os braços atrás da nuca, descalçar os chinelos, procurar um pouco de terra e erva com os pés e ficar assim... Permaneço imóvel durante vários minutos, quem me vê deve certamente indagar-se porquê, mas para que servem as opiniões alheias? O vento teima em soprar, abana algumas ervas secas e pinheiros. Os eucaliptos ao longe, por serem maiores fazem-se ouvir perfeitamente e, assim, não preciso trautear qualquer música. Nestes momentos tenho pouco em que pensar, na realidade, o facto de não pensar é o que me faz sentir tão bem, estar apenas a sentir, sem racionalizar nada, apenas sentir, entrar numa dimensão onde habitualmente não temos tempo de estar, permitir ser feliz, ou nem ser feliz, apenas ser, sem qualque...
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No dia em que tiver tempo irei fazer tudo aquilo que desejo. Resolução sábia, poderosa, que esbarra apenas nalgumas questões, como o facto do tempo não ser passível de possuir. O tempo é-o, para ele basta, chega, para outros é uma forma de protelar algumas questões. O desejo não o é, para ele basta, chega, para outros é uma forma de protelar algumas questões. Li os parágrafos anteriores e dou-me por feliz por não ter seguido filosofia. Estou de férias, deixo os dias escorrerem lentamente, sempre com qualquer coisa para fazer, com uma miríade de elementos e peças que não compõem o meu puzzle. Hoje estive no Alvão, sentado numa rocha, à sombra de um pinheiro quase nu, que chorava para dentro de uma pequena saca de plástico pregada ao tronco, saltitava o olhar entre as lagoas que o rio Olo faz ao fundo e o céu azul claro com algumas nuvens em cima. Dei por mim a imaginar estar lá, mas de noite, ouvir as lagoas e as estrelas, sim, ouvir, porque as estrelas não se vêm, aqueles pequeno...