Descalço-me, sinto a terra, quente, nos meus pés... 
Algures pelo Universo, este berlinde rodopia e rodopia-se, incessantemente, durante anos e segundos. 
Não consigo deixar de me sentir rodopiar, agora, no portátil, numa lagoa do Alvão ou num dos muitos recantos do Gerês... Quantas partes de mim se escondem num tronco, num animal faminto, numa cereja amadurecida, numa chuva quente de Primavera, num olhar pelo horizonte, num país qualquer que me acolha como voluntário. 
Lentamente, a minha unidade e identidade separam-se para percorrerem todos as dimensões que desconheço. Vou construindo as frases como quem se recorda do útero, como quem tenta, entre pinceladas, o traço fino com que desenho o dia de amanhã. A poesia, a prosa, tudo o que seja escrever, pensar, verbalizar, contextualizar, tudo me foge das mãos para se esconder e partilhar com o vento, esse sim, viajante eterno que se esconde onde todos o encontram.
Faz-me falta a caminhada, o sentir descontraído do vento e do sol, da chuva e do frio, pelos caminhos que vou percorrendo, mesmo sem rumo, mas com destino, enchendo o peito de feno, de pólen, de uma ou outra lágrima que se desprende para molhar o pensamento.
Não caibo em mim. Hoje, sou tu e tu, e tu, e tu! Hoje sou todos nós, pelos quadros que nunca pintei, pelos muros que nunca saltei com medo do lado de lá. E hoje, que não sou eu, é quando verdadeiramente me sinto em mim, sem riso ou lágrima, apenas brisa ou ar gélido, ou eu.
Se um dia as minhas mãos se calarem, que não se esqueçam meus olhos do caminho que me leva até mim, ainda que distante.

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