Quase louco
"Quase louco", crónica no Canal N
Confinamo-nos a viver dentro de nós, próprios e atados, afastados das torrentes vítreas que nos reduzem ao caminho percorrido e à incerteza do que há, ainda, possivelmente, pouco previsivelmente por percorrer.
Dentro de mim habito-me num universo que se confunde com um próprio verso, lavam-se as mãos de um dia onde a consciência sucumbiu ao peso da ignorância, talvez da inocência, aos atropelos próprios de quem não se sabe pedalar para mover o mundo. Ah, se a vida fosse apenas um segundo.
Mas não é.
E por isso, talvez tudo se reduza à fé. Religiosa e ateia, cada qual a tem à sua maneira, vai provendo quem nada observa além do clarear do dia na janela tricotada por teias de aranha (e café negro, uma boroa, um capuz, uma gadanha), rendilhada pelo olhar embaçado de quem arfa um orbe cansado, as costas aquecidas nas pedras graníticas do muro, os olhos fechados na visibilidade fotónica de sonhar um Sol a cada dó.
Há quem leia «só em mim me sinto seguro».
Há quem escreva «faltará muito para chegar a outro lado?»
E a viagem decorre sem vulgar destino, cada curva sua sentença, vergar apenas a Deus num rápido «a sua bênção» e sorrir esguiamente um «mas deixai ficar a tentação».
Catapultados pelo desconhecido, embarcados ao vazio próprio de quem se sabe vestir e sai à rua nu, artilham a existência de terem aquilo que os faz serem e que, invariavelmente, os leva a possuir pouco, muito pouco.
Talvez por tudo, possa aclamar silenciosamente este inverosímil mantra e me tenha ao fim da tarde rouco, feliz, quase louco.
Confinamo-nos a viver dentro de nós, próprios e atados, afastados das torrentes vítreas que nos reduzem ao caminho percorrido e à incerteza do que há, ainda, possivelmente, pouco previsivelmente por percorrer.
Dentro de mim habito-me num universo que se confunde com um próprio verso, lavam-se as mãos de um dia onde a consciência sucumbiu ao peso da ignorância, talvez da inocência, aos atropelos próprios de quem não se sabe pedalar para mover o mundo. Ah, se a vida fosse apenas um segundo.
Mas não é.
E por isso, talvez tudo se reduza à fé. Religiosa e ateia, cada qual a tem à sua maneira, vai provendo quem nada observa além do clarear do dia na janela tricotada por teias de aranha (e café negro, uma boroa, um capuz, uma gadanha), rendilhada pelo olhar embaçado de quem arfa um orbe cansado, as costas aquecidas nas pedras graníticas do muro, os olhos fechados na visibilidade fotónica de sonhar um Sol a cada dó.
Há quem leia «só em mim me sinto seguro».
Há quem escreva «faltará muito para chegar a outro lado?»
E a viagem decorre sem vulgar destino, cada curva sua sentença, vergar apenas a Deus num rápido «a sua bênção» e sorrir esguiamente um «mas deixai ficar a tentação».
Catapultados pelo desconhecido, embarcados ao vazio próprio de quem se sabe vestir e sai à rua nu, artilham a existência de terem aquilo que os faz serem e que, invariavelmente, os leva a possuir pouco, muito pouco.
Talvez por tudo, possa aclamar silenciosamente este inverosímil mantra e me tenha ao fim da tarde rouco, feliz, quase louco.
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