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A mostrar mensagens de abril, 2020

Nas Tuas mãos

Não te afoita o despreparo, nem a cálida impressão da vida no seu anteparo. Rasgas caminho ombreando forças com o vazio dormente, sorris na ruga desgastada das vidas que, a teu toque, amanhecem crianças novamente. De teu labor sorrisos ondulam nos ribeiros do teu suor. Da noite iluminada à luz do silêncio apagado, em leito descansas sob o céu de um cansaço chorado. Hoje o aconchego parece-te cru, mas amanhecerá futuro nos corpos torpes que visitaste porque tu, és tu! Não desvaneças a distância dos saudosos abraços, aos pais e avós como a teus irmãos. É o próprio Deus, que, dos teus braços, faz as Suas mãos.

Quase louco

" Quase louco ", crónica no Canal N Confinamo-nos a viver dentro de nós, próprios e atados, afastados das torrentes vítreas que nos reduzem ao caminho percorrido e à incerteza do que há, ainda, possivelmente, pouco previsivelmente por percorrer. Dentro de mim habito-me num universo que se confunde com um próprio verso, lavam-se as mãos de um dia onde a consciência sucumbiu ao peso da ignorância, talvez da inocência, aos atropelos próprios de quem não se sabe pedalar para mover o mundo. Ah, se a vida fosse apenas um segundo.  Mas não é.  E por isso, talvez tudo se reduza à fé. Religiosa e ateia, cada qual a tem à sua maneira, vai provendo quem nada observa além do clarear do dia na janela tricotada por teias de aranha (e café negro, uma boroa, um capuz, uma gadanha), rendilhada pelo olhar embaçado de quem arfa um orbe cansado, as costas aquecidas nas pedras graníticas do muro, os olhos fechados na visibilidade fotónica de sonhar um Sol a cada dó.  Há quem leia «s...

Um dia as pessoas serão um lugar bonito

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“ Um dia as pessoas serão um lugar bonito ”, crónica do Nada, no Correio do Porto. Começo a caminhada ao procurar um pouco de paz no vento que passa, resoluto, sem nada me querer dizer, excepto sobre a brevidade do tempo e dele próprio. Três jovens concluem um muro erigido em tijolo, a pá faz escorrer o cimento pelas caneluras, observo com aprovação, enquanto tropeço no piso irregular, como se por baixo de mim brotasse um magma viscoso, frio, que enruga o granito toscamente aplicado. Caminho, parado. Os dias maiores, hora nova como assim lhe chamam, trazem consigo outras dores. Apesar do confinamento e do frio desencorajador, o conforto da camisola puxada para o pescoço como se me envolvesse a recordação de um adormecer a olhar para a lareira, impele-me a continuar o trajecto pelas ruas cada vez mais desertas, nada beijo, excepto o trio trabalhador de ontem e do parágrafo anterior. Separam-nos as letras, o talento para o trabalho manual e a minha constante indagação. Será que a Sra...