Que farei eu, quando o infinito terminar com a luz dos meus olhos e me descobrir, então, pedaço de terra, aluvião, um vento à sorte sem incomodar os véus, que farei eu, Deus? Que farei eu, na ternura do amanhecer, quando em cárcere não me vir sobrevoar os montes, eu, sobre barcas e carontes, nada mais aprisionando do que a ilusão, hoje é ontem, amanhã é não. Que farei eu, terra alcalina da súplica numa hortênsia, casta de cepa sem afluência de seiva bruta, em silêncio de tarde de domingo. O infinito, a terra que me quer inaudito e eu, sem o saber, planto mundos porque não o sei dizer.
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A mostrar mensagens de janeiro, 2020
Sagrada Família
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“ Sagrada Família ”, uma Crónica do Nada, no Correio do Porto . Alheia à periculosidade de caminhar numa estrada nacional de costas para o trânsito, talvez porque o negro das vestes que lhe escorrem do corpo até aos pés não avizinhe nada que se possa perder além do que já foi perdido, como a alma gêmea que se faz já de sentimento erodido, segue lesta pela faixa de asfalto desgastado, no limite entre o traço contínuo, tracejado aqui e ali como locais onde por analogia se possa mudar de destino, e a berma que resvala para um empedrado, musgado, esburacado caminho por onde a água corre apenas por não ter escolha. Na mão direita, suspensa como uma pequena lamparina a óleo alumiando as noites e os dias desprovidos de luz, dentro e fora de nós próprios, uma pequena casinha de madeira, como todas devem ser, as casas, pequenas e de madeira, onde vivam entre nós e veios mais ou menos encostados aos corpos que nos permitem colmatar a solidão de sermos por vezes ermos, transporta gentilmente u...