Pagaria, caso as nuvens fossem dinheiro, o que necessário fosse para ter, sempre, a refracção das gotículas de água num dia de sol tímido. Engano o torpor de uma viragem na estrada com a promessa de ser, novamente, o som abafado da surpresa de uma criança a ver pela primeira vez a influência de um sorriso. Tenho gastado as horas, talvez por isso o tempo ranja quando passa perto de um sentimento e o vento se faz ao caminho, na maior parte das vezes sozinho, para se sentar no colo de alguém que o embale, até ele se recordar daquilo que realmente vale. Deitado, a noite subiu já até ao meu peito, preparando-se para me cobrir. Agora sim, é hora de dormir.
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Dás-me um brinquedo?
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“ Dás-me um brinquedo? ”, crónica para a secção Crónicas do Nada , no Correio do Porto . - Dás-me um brinquedo? É impossível perceber onde terá ele visto o brinquedo e qual terá sido, as roulottes de bebidas e comidas sacudidas pelo ribombar das colunas que, ritmicamente, soltam decibéis de uma verbalização cacofónica muitas vezes ignóbil, orlam a avenida onde, longe agora da passividade das caminhadas diárias, se deslocam afobadas pessoas, infantis, adultas e indefinidas em busca do que é que quer que seja que lhes sacie a ansiedade que ladeia a ida à festa. - Dás-me um brinquedo? – retorquiu. Virei a cabeça, o puto cavalgava os ombros do pai, talvez antecipando uma ida ao carrossel infantil, trotear num cavalo tosco, rodar um volante a medo para a roda não sair do trilho, tocar na sineta do camião de bombeiros ou cintilar num unicórnio rumo ao arco-íris, destino final da fantasia pueril que, em adulto, não passará de um risco colorido no céu, longínquo, apesar das tentativas ...