Apenas o silêncio
Crónica de Domingo, na Bird Magazine ou como ficar apenas o silêncio . É com as memórias tumefactas que me irei deitar, na cama, talvez na terra, e deixar que a argila se molde a mim e eu renasça por obra de um sopro, órfão de costela. Talvez assim, semi-enraizado, me surjam das mãos pequenos galhos que floresçam um dia quando desfolhar um conto qualquer de Miguel Torga e me adopte, o conto, como cedro, vinha, apeadeiro de abandonos abandonado ou, até, como fraga perpetuamente admiradora de uma paisagem que por imutável me obrigue a descobrir novas pétalas nas mesmas flores. Carregarei valados acima os cestos das minhas palavras e tentarei semear, com meus parcos conhecimentos de semeadura e agricultura, as palavras que gostaria ver desenhadas nas encostas onde espero acordar quando pousar este corpo e me erguer, livre, pelo infinito que primeiro me envolver. Mas agora, resta-me pouco mais que o silêncio e o calor do corpo. Tenho as palavras a latejar no chão, dispersas, sem saber c...