Ilha
Crónica de domingo, 17/09/2017, na Bird Magazine.
Sem qualquer surpresa, o dia escorrega da noite para a iluminada parte da terra, percorrendo sem grandes veleidades léguas de chão parando poucas vezes para escutar o que de nada sai quando a mediocridade e inocência teimam em falar.
Fascina-me a inconstância meteorológica e os frutos que a terra vai parindo, seja fecundada profissionalmente ou somente com amor.
Fascina-me o acre do suor e o movimento de fuga da insectivorada esgravatando terra adentro como desejando voltar para os braços da mãe.
Fascinam-me anos passados numa memória que dura um segundo.
Quem não gosta?
Há um se e uma realidade, qual de ambos é real?
As costas voltadas à montanha ou a obsessividade pela vida que se sabe não existir?
Fascinam-me as cores sob as nuvens antes do Sol se pôr ao encontro dos momentos finais do dia, ainda que, como hoje, as cores vivam apenas na imaginação das palavras que me escrevem.
Que seriam de meus dias futuros, sem a incógnita dos passados?
Por tudo isto, quando o dia soluça e parece acordar, já eu venho a percorrer, em passo aflito, o caminho recortado na paisagem, sorvendo o orvalho matinal que ainda persiste porque não sabe que existe e levo já nos olhos o sono perdido e as lágrimas de júbilo por saber ali, dormentes, a espuma das ondas da maré que irei pastar.
Vão-se batendo de encontro à costa, inquietas.
Enquanto não chego entretêm-se a bolear à perfeição as pedras vulcânicas que a terra, inocentemente, pariu.
Restolham o som, desdobram-se em vagas de uma fervura de ouvidos quando a espuma se desfaz e deixa cair, de costas, no amparo do mar.
Elas sabem-me de lá, por isso apascentam e sorriem quando, ofegante, chego ao cimo do monte escarpado e com um dente de leão por cajado as saúdo.
Sorriem-me na maré dourada que se estende pelas sombras do que o Sol não cobre.
Ondas de lavoura e espuma de milheirais, na irregular costa da simplicidade de amar a terra, eis os despojos sem guerra.
Soçobro a passividade e pastoreio a espuma das ondas.
Gravo-me em arado que se verte pelo olhar.
Eu e as ondas, a suspirar.
O texto que teima em falar e eu, navegante, calado, sem me saber sequer vocalizar, porque há um hiato entre as vagas das vidas onde não sei nadar.
Sem qualquer surpresa, o dia escorrega da noite para a iluminada parte da terra, percorrendo sem grandes veleidades léguas de chão parando poucas vezes para escutar o que de nada sai quando a mediocridade e inocência teimam em falar.
Fascina-me a inconstância meteorológica e os frutos que a terra vai parindo, seja fecundada profissionalmente ou somente com amor.
Fascina-me o acre do suor e o movimento de fuga da insectivorada esgravatando terra adentro como desejando voltar para os braços da mãe.
Fascinam-me anos passados numa memória que dura um segundo.
Quem não gosta?
Há um se e uma realidade, qual de ambos é real?
As costas voltadas à montanha ou a obsessividade pela vida que se sabe não existir?
Fascinam-me as cores sob as nuvens antes do Sol se pôr ao encontro dos momentos finais do dia, ainda que, como hoje, as cores vivam apenas na imaginação das palavras que me escrevem.
Que seriam de meus dias futuros, sem a incógnita dos passados?
Por tudo isto, quando o dia soluça e parece acordar, já eu venho a percorrer, em passo aflito, o caminho recortado na paisagem, sorvendo o orvalho matinal que ainda persiste porque não sabe que existe e levo já nos olhos o sono perdido e as lágrimas de júbilo por saber ali, dormentes, a espuma das ondas da maré que irei pastar.
Vão-se batendo de encontro à costa, inquietas.
Enquanto não chego entretêm-se a bolear à perfeição as pedras vulcânicas que a terra, inocentemente, pariu.
Restolham o som, desdobram-se em vagas de uma fervura de ouvidos quando a espuma se desfaz e deixa cair, de costas, no amparo do mar.
Elas sabem-me de lá, por isso apascentam e sorriem quando, ofegante, chego ao cimo do monte escarpado e com um dente de leão por cajado as saúdo.
Sorriem-me na maré dourada que se estende pelas sombras do que o Sol não cobre.
Ondas de lavoura e espuma de milheirais, na irregular costa da simplicidade de amar a terra, eis os despojos sem guerra.
Soçobro a passividade e pastoreio a espuma das ondas.
Gravo-me em arado que se verte pelo olhar.
Eu e as ondas, a suspirar.
O texto que teima em falar e eu, navegante, calado, sem me saber sequer vocalizar, porque há um hiato entre as vagas das vidas onde não sei nadar.
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