Azedume
Crónica. Domingo. Bird Magazine . As tardes de Verão tiveram quase sempre, no meu imaginário, três ou quatro bandas sonoras, monótonas, taciturnas e muito pouco animadoras. Hoje não é excepção. A sirene dos bombeiros lamenta-se arrastadamente, fecho os estores e imagino que seja noite, com a sua longa túnica pontilhada aqui e ali com tremeluzentes pontos, longos, inimagináveis distâncias de tempos em que eu, deduzo, fosse um outro qualquer aglomerado de átomos, uma abundância relativa noutras percentagens, um isótopo ou apenas e só o pontilhado feliz e errante dos electrões que surgem e desaparecem nos diferentes níveis de energia. Ouço os carros zunirem, alternamente, novamente, a sirene dos bombeiros brame na quente tarde enquanto alguém se queixa do barulho, - há quem tenha crianças para dormir Sacudo a cabeça, antes fosse noite e todas as vozes que não chegam ao céu se calassem por momentos, se cingissem ao gutural arrastado de um ronco que sai da cavernosa reentrânci...