Quando o sonho chegar a voar e me estender a mão
Crónica na Bird Magazine.
No momento, neste, em que sinto o vazio de não escrever, ter palavras agarradas à alma, frases inteiras entrelaçadas num emaranhado novelo, é quando desejo a simplicidade de olhar o céu estrelado, ainda que me separe dele alguns pisos e uns quantos quilómetros.
Hoje, na ausência de filosofias, vou escolher retirar do forno da vida as noites mais frias, para que possa imaginar sentar-me na beira da cama, pendendo os pés para um vazio luminoso e adormecer nesta posição, para me levantar rapidamente quando o sonho chegar a voar e me estender a mão.
Poucas luzes brilham mais que uma noite sem lua. Enquanto o vento abana as lâmpadas no coreto, há uma musica tua, que se toca, corpo e sinfonia, para lá do frio que começa a cair desamparado, entre os ombros e o cigarro.
Sou o lume que apago, pelos degraus da justiça, ascendo à boleia, literal, da compaixão metamorfoseada em casulo, hoje a vida nasceu ao contrário, não te preocupes, novo olhar poderá ter-te, novamente, nesse lugar de ninguém onde se encontram vidas passadas, há séculos, ontem.
De onde vens tu, amálgama de gente, pelo calor acima com todo este serrado às costas?
Quererás deslocar o mundo, para que passem por ele, sobre ele, os ecos de uma morte enunciada, enumerada, designada?
Vales pouco mais que uma rima de gado, por isso mesmo te querem submisso, parcamente alimentado, na esperança vã de um dia despires o suor e descansares sentado na beira da cova, reles buraco que tiveste que comprar, à espera de adormeceres, de tédio, solidão ou, simplesmente, até te empurrarem com um pontapé ou uma palmadinha nas costas.
Vai que vais tarde.
O teu tributo será o húmus que alimentará as pastagens ainda antes de serem sementes.
Se te soubesses eterno, perene, unicidade da multiplicidade, poderias virar costas e voar, sem medo e sem olhar para trás, o teu maior segredo é seres rei e fazerem de ti cravo, com que prendem a ferradura nesse teu cavalgar de equídeo bravo, selvagem.
Não... Não acredites em mim, estou cá de passagem, sem alforge, sem bordão, sem roupa, sem viagem.
Do calor faço imaginação, pelas curvas o destino, a paisagem sobe-me à mão, a palavra instrumento que desafino.
Pudesse o Sol subir tão alto e prolongar a sombra do futuro na fachada da minha morada, mas a minha morada é pousio que habito sem dormir, as paredes do meu quarto são as luas reunidas quando por entre serenamente movimentadas plantas te vejo sorrir.
Sigo o traço da minha mão, chamam-lhe linha da vida, por ela um ribeiro secou quando Dezembro terminou sem nunca ter Primaverado. E, pelo entardecer tardio, não tarda vou dormir, sem nunca ter acordado.
No momento, neste, em que sinto o vazio de não escrever, ter palavras agarradas à alma, frases inteiras entrelaçadas num emaranhado novelo, é quando desejo a simplicidade de olhar o céu estrelado, ainda que me separe dele alguns pisos e uns quantos quilómetros.
Hoje, na ausência de filosofias, vou escolher retirar do forno da vida as noites mais frias, para que possa imaginar sentar-me na beira da cama, pendendo os pés para um vazio luminoso e adormecer nesta posição, para me levantar rapidamente quando o sonho chegar a voar e me estender a mão.
Poucas luzes brilham mais que uma noite sem lua. Enquanto o vento abana as lâmpadas no coreto, há uma musica tua, que se toca, corpo e sinfonia, para lá do frio que começa a cair desamparado, entre os ombros e o cigarro.
Sou o lume que apago, pelos degraus da justiça, ascendo à boleia, literal, da compaixão metamorfoseada em casulo, hoje a vida nasceu ao contrário, não te preocupes, novo olhar poderá ter-te, novamente, nesse lugar de ninguém onde se encontram vidas passadas, há séculos, ontem.
De onde vens tu, amálgama de gente, pelo calor acima com todo este serrado às costas?
Quererás deslocar o mundo, para que passem por ele, sobre ele, os ecos de uma morte enunciada, enumerada, designada?
Vales pouco mais que uma rima de gado, por isso mesmo te querem submisso, parcamente alimentado, na esperança vã de um dia despires o suor e descansares sentado na beira da cova, reles buraco que tiveste que comprar, à espera de adormeceres, de tédio, solidão ou, simplesmente, até te empurrarem com um pontapé ou uma palmadinha nas costas.
Vai que vais tarde.
O teu tributo será o húmus que alimentará as pastagens ainda antes de serem sementes.
Se te soubesses eterno, perene, unicidade da multiplicidade, poderias virar costas e voar, sem medo e sem olhar para trás, o teu maior segredo é seres rei e fazerem de ti cravo, com que prendem a ferradura nesse teu cavalgar de equídeo bravo, selvagem.
Não... Não acredites em mim, estou cá de passagem, sem alforge, sem bordão, sem roupa, sem viagem.
Do calor faço imaginação, pelas curvas o destino, a paisagem sobe-me à mão, a palavra instrumento que desafino.
Pudesse o Sol subir tão alto e prolongar a sombra do futuro na fachada da minha morada, mas a minha morada é pousio que habito sem dormir, as paredes do meu quarto são as luas reunidas quando por entre serenamente movimentadas plantas te vejo sorrir.
Sigo o traço da minha mão, chamam-lhe linha da vida, por ela um ribeiro secou quando Dezembro terminou sem nunca ter Primaverado. E, pelo entardecer tardio, não tarda vou dormir, sem nunca ter acordado.
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