Dois relâmpagos e três trovoadas
Crónica, no Correio do Porto.
O tempo, apesar de não existir, vai fazendo de cada um de nós o modelo para as suas pinturas. Crava uma ruga aqui, uma saudade ali, um qualquer padrão que nos embrulhe e entrega-nos à vida, apesar de não existir, para que ela se encarregue de nos unir num gigantesco mosaico, um dodecaedro cujas faces internas são o caleidoscópio das memórias.
De todas as ambiguidades, a dualidade da vida vs tempo parece levar em si, bem escondida, todas as palavras que teimo em tentar compreender antes de escrever.
Troco dois relâmpagos por três trovoadas murmurantes a quilómetros de distância. Ou, então, por um segundo de imortalidade nas rugas pintadas pelo tempo, esculpidas por mim, artesão de mim mesmo.
Entro pelo sono abraçado à noite, na esperança de ela mesma, quando se cruzar no horizonte com o dia que nasce, lhe passe os sonhos que se diluem quando acordo.
Nunca acontece.
Acordo com o despertador e, nesse momento, tudo e todos que me rodeavam se assustam com o início do desenrolar de mais um dia que se vai parir e morrer cedo.
Só quando a claridade me deixa torpe suficiente, consigo, ainda que fugazmente, ver levantarem-se da minha beira os meus zeladores, deitando-me com o carinho que, acredito, dedicam a cada um de nós ignorantes.
Nascem dias todos os dias, muitas vezes mais do que uma vez por dia, mas continuamos, apesar de esforços invisíveis, adormecidos anos e anos enquanto aquilo que pensamos ser vida passa por nós, fatigada.
Que tudo procuramos nós, se tudo o que necessitamos é nada?
O tempo, apesar de não existir, vai fazendo de cada um de nós o modelo para as suas pinturas. Crava uma ruga aqui, uma saudade ali, um qualquer padrão que nos embrulhe e entrega-nos à vida, apesar de não existir, para que ela se encarregue de nos unir num gigantesco mosaico, um dodecaedro cujas faces internas são o caleidoscópio das memórias.
De todas as ambiguidades, a dualidade da vida vs tempo parece levar em si, bem escondida, todas as palavras que teimo em tentar compreender antes de escrever.
Troco dois relâmpagos por três trovoadas murmurantes a quilómetros de distância. Ou, então, por um segundo de imortalidade nas rugas pintadas pelo tempo, esculpidas por mim, artesão de mim mesmo.
Entro pelo sono abraçado à noite, na esperança de ela mesma, quando se cruzar no horizonte com o dia que nasce, lhe passe os sonhos que se diluem quando acordo.
Nunca acontece.
Acordo com o despertador e, nesse momento, tudo e todos que me rodeavam se assustam com o início do desenrolar de mais um dia que se vai parir e morrer cedo.
Só quando a claridade me deixa torpe suficiente, consigo, ainda que fugazmente, ver levantarem-se da minha beira os meus zeladores, deitando-me com o carinho que, acredito, dedicam a cada um de nós ignorantes.
Nascem dias todos os dias, muitas vezes mais do que uma vez por dia, mas continuamos, apesar de esforços invisíveis, adormecidos anos e anos enquanto aquilo que pensamos ser vida passa por nós, fatigada.
Que tudo procuramos nós, se tudo o que necessitamos é nada?
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