O sorriso alimenta-se a si mesmo
“O sorriso alimenta-se a si mesmo”, ao domingo, na Bird Magazine.
Gosto de ser surpreendido quando a surpresa se esgueira e me levanta a pálpebra da atenção trazendo o que muito bem entende, pensando que me vai fazer sorrir.
Gosto de ser surpreendido com boa música, com conteúdo, bem longe do que querem que ouça.
Só assim é possível alcançar alguma lucidez e calma.
Chamemos-lhe idade, crise, inconsistência, mas cansa, estou cansado, as pessoas dizem-se cansadas.
Ainda procuramos no cimo do caminho de terra, com a bola debaixo do braço ou a boneca presa ao peito, a chegada de amigos para jogarem e brincarem connosco.
Agora, no final da rua, está apenas uma bicicleta e eu ainda espero, um dia, pelas gargalhadas e travessuras, por tempos em que nascia um sorriso a cada vento, um abraço a cada golo.
Crescemos, sei-o, levo 41 voltas ao Sol e todos os dias me lembro que cresço, no entanto, a cada vez que olho para a bicicleta pergunto-me se crescemos nas direcções correctas, se vale a pena a maior parte deixar de lado a inocência, o sorriso, a confiança e a garantia de um "juro!"
Antes, como agora, comovo-me pela simplicidade, pelo olhar de júbilo aquando de uma vitória, pela forma mais inusitada de uma nuvem, pelo sorriso de uma cumplicidade.
Embora todo o mediatismo e as redes sociais façam parecer o contrário, caminhamos todos em direcções diferentes, indiferentes ao que fazer, mandados por uma sociedade que, ao longo de gerações, tem conseguido que todos, quase invariavelmente, sejam aquilo que se espera deles.
Vale a pena ser mais, Mais. Como o grupo de amigos, um verão azul, o vento na cara e todos, sem excepção, a assobiar, por estradas diferentes com um destino único, nós mesmos.
Bastaria sermos amigos de nós próprios, sem necessidade de hashtags, no sossego ameno das nuvens que se atropelam na pressa de saírem da frente do Sol. No entanto vivemos ao sabor do vento, não do que sopra, mas do que nos sopram, como se fossemos pequenos barcos de papel, frágeis, nas mãos de gigantes que, ajoelhados no chão, sopram-nos ao sabor das suas mais asquerosas intenções.
Crescei e multiplicai-vos rasurado sobre o crescei e amai-vos.
Nós, à deriva, derivando, vamos de vela levantada para onde nos dizem para ir.
E quando a diversão termina ou o papel está já encardido, espetam um dedo indiferentes a quem por lá navega, com um sorriso cínico no rosto e ficam jocosamente a observar afundar-se um barco.
A liberdade nunca teria que ser conquistada, nasce connosco ainda antes de sermos corpo.
Como o sorriso.
E o sorriso é tudo o que basta para aquecer uma noite ou florir um mundo.
Gratuito, sem depender do que temos, o sorriso alimenta-se a si mesmo e ganha vida, saltando de rosto em rosto, até, cansado, mas feliz, se deixar cair nos braços da amizade e ali ficar enquanto houver quem o escreva.
Era hoje, o dia, em que caminharia por todas as costas até perder de vista os meus passos para passar a ser areia, lavada, levada, pelas ondas do mar e, aí, ser água em todas as costas e descobrir que de terra e água todos temos um pouco, mesmo quem nunca viu o mar.
E o mar, que me tem, sabe-me a mar.
Gosto de ser surpreendido quando a surpresa se esgueira e me levanta a pálpebra da atenção trazendo o que muito bem entende, pensando que me vai fazer sorrir.
Gosto de ser surpreendido com boa música, com conteúdo, bem longe do que querem que ouça.
Só assim é possível alcançar alguma lucidez e calma.
Chamemos-lhe idade, crise, inconsistência, mas cansa, estou cansado, as pessoas dizem-se cansadas.
Ainda procuramos no cimo do caminho de terra, com a bola debaixo do braço ou a boneca presa ao peito, a chegada de amigos para jogarem e brincarem connosco.
Agora, no final da rua, está apenas uma bicicleta e eu ainda espero, um dia, pelas gargalhadas e travessuras, por tempos em que nascia um sorriso a cada vento, um abraço a cada golo.
Crescemos, sei-o, levo 41 voltas ao Sol e todos os dias me lembro que cresço, no entanto, a cada vez que olho para a bicicleta pergunto-me se crescemos nas direcções correctas, se vale a pena a maior parte deixar de lado a inocência, o sorriso, a confiança e a garantia de um "juro!"
Antes, como agora, comovo-me pela simplicidade, pelo olhar de júbilo aquando de uma vitória, pela forma mais inusitada de uma nuvem, pelo sorriso de uma cumplicidade.
Embora todo o mediatismo e as redes sociais façam parecer o contrário, caminhamos todos em direcções diferentes, indiferentes ao que fazer, mandados por uma sociedade que, ao longo de gerações, tem conseguido que todos, quase invariavelmente, sejam aquilo que se espera deles.
Vale a pena ser mais, Mais. Como o grupo de amigos, um verão azul, o vento na cara e todos, sem excepção, a assobiar, por estradas diferentes com um destino único, nós mesmos.
Bastaria sermos amigos de nós próprios, sem necessidade de hashtags, no sossego ameno das nuvens que se atropelam na pressa de saírem da frente do Sol. No entanto vivemos ao sabor do vento, não do que sopra, mas do que nos sopram, como se fossemos pequenos barcos de papel, frágeis, nas mãos de gigantes que, ajoelhados no chão, sopram-nos ao sabor das suas mais asquerosas intenções.
Crescei e multiplicai-vos rasurado sobre o crescei e amai-vos.
Nós, à deriva, derivando, vamos de vela levantada para onde nos dizem para ir.
E quando a diversão termina ou o papel está já encardido, espetam um dedo indiferentes a quem por lá navega, com um sorriso cínico no rosto e ficam jocosamente a observar afundar-se um barco.
A liberdade nunca teria que ser conquistada, nasce connosco ainda antes de sermos corpo.
Como o sorriso.
E o sorriso é tudo o que basta para aquecer uma noite ou florir um mundo.
Gratuito, sem depender do que temos, o sorriso alimenta-se a si mesmo e ganha vida, saltando de rosto em rosto, até, cansado, mas feliz, se deixar cair nos braços da amizade e ali ficar enquanto houver quem o escreva.
Era hoje, o dia, em que caminharia por todas as costas até perder de vista os meus passos para passar a ser areia, lavada, levada, pelas ondas do mar e, aí, ser água em todas as costas e descobrir que de terra e água todos temos um pouco, mesmo quem nunca viu o mar.
E o mar, que me tem, sabe-me a mar.
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